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Crianças e jovens ansiosos: saiba como as escolas podem ajudar

O coração bate mais forte, os pensamentos sobre determinado tema não saem da cabeça, a dificuldade para dormir vira uma constante e, às vezes, até mesmo o ar parece faltar. Quando a ansiedade, um sentimento que é natural e faz parte do dia a dia de todos nós, se torna extrema, impactando atividades corriqueiras, é preciso ligar o sinal de alerta.

“A ansiedade torna-se preocupante quando sua intensidade e persistência trazem prejuízos para a vida, como falta de sono e de apetite, queda drástica no rendimento, isolamento e fobia social. Outro fator que merece atenção é quando a pessoa começa a ter medo de ficar ansiosa, ou seja, desenvolve uma ansiedade sobre a ansiedade, o que pode acarretar em crises de pânico, por exemplo”, explica Renata Ishida, gerente pedagógica do LIV.

Casos assim têm se tornado cada vez mais frequentes. Um levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que 9,3% dos brasileiros sofrem de ansiedade patológica, que precisa receber um olhar atento de profissionais de saúde e familiares.

“Quando o sofrimento está muito intenso, é necessário procurar ajuda psicológica para compreender a causa e, quem sabe, uma avaliação psiquiátrica”, recomenda Cristina Marques, coordenadora de psicologia da Coala Saúde, uma plataforma de saúde escolar que conecta alunos e famílias com uma equipe de carinho própria,, especializada em atendimento médico humanizado. 

Ansiedade não escolhe faixa etária

Ao contrário do que muita gente pensa, o transtorno não acomete apenas adultos. Crianças e adolescentes não estão imunes e muitas escolas têm relatado um aumento de casos de ansiedade generalizada entre seus alunos.

Cristina lembra que as expectativas de como esse adolescente deve ser estar no mundo, muitas delas causadas pelas redes sociais, têm contribuído para esse crescimento: 

“A adolescência por si só já traz muita ansiedade. Dar conta das mudanças corporais, emocionais, familiares, fazer a transição da infância para uma vida com mais autonomia, independência e que exige o posicionamento como sujeito no mundo, já é muito complexo. No contexto atual, onde as redes sociais têm um papel importante de conexão, onde esse é o espaço de relação, de busca pelas referências, essa travessia se torna mais desafiadora. Ela exige do adolescente maturidade, resiliência e autoestima”.

Para a especialista do LIV, o uso excessivo de telas também impacta diretamente nessa sensação de ansiedade entre crianças e jovens.

“Com o acesso à tecnologia e a possibilidade de entretenimento acessível, as crianças estão cada vez mais perdendo a capacidade de espera, de tolerância ao tédio e de buscar formas criativas de preenchimento do tempo. Os vídeos são mais curtos e as mensagens são ouvidas em uma velocidade que não tolera a pausa e o silêncio. Porém, a vida não é assim. No mundo concreto, as mudanças levam um tempo maior e não controlado, as respostas não são automáticas e diretas. Como consequência, temos estudantes com mais dificuldade de concentração, com intolerância às frustrações e à espera, com medo da demora de uma resposta ou aprovação”, diz Renata.

A gerente pedagógica do LIV diz ainda que as causas deste boom de ansiedade são multifatoriais, mas destaca que a pandemia de Covid-19 e as sucessivas crises mundiais podem ter agravado o problema.

“O isolamento social acarretou em uma restrição de atividades e de exploração do mundo. Isso prejudicou o desenvolvimento emocional das crianças, podendo acarretar em mais insegurança, ansiedade e outros transtornos. As crises climáticas, guerras e violência também têm produzido efeitos na educação e, consequentemente, no desenvolvimento emocional das crianças e jovens. Há uma criação mais murada, na qual as crianças têm menos convívio em lugares públicos, na natureza e no coletivo. As outras pessoas são vistas como ameaçadoras e o fim do mundo é posto como iminente. Nem tudo é falso, temos sim um índice de violência assustador e uma catástrofe ambiental em processo, porém a forma como passamos isso para as crianças pode ser paralisante e gerar impotência e ansiedade”, diz Renata.

Qual o papel das escolas neste cenário?

As escolas também precisam se envolver nessa discussão e refletir sobre seu papel. Renata lembra que, pelo fato de os educadores acompanharem os estudantes em vários momentos da vida, como estresse com provas, trabalhos em grupos, hora da alimentação, têm a possibilidade de identificar comportamentos atípicos e mudanças de humor, ajudando a prevenir situações que podem se tornar crônicas. Além disso, lembra que, muitas vezes, a criança e o adolescente pedem ajuda primeiro para alguém da escola porque podem ter medo ou vergonha da família.

Ademais, ela defende que as escolas pensem a respeito de seu ambiente e suas propostas pedagógicas. Será que eles estão contribuindo para desenvolver a ansiedade entre os alunos?

“As atividades são competitivas ou colaborativas? O erro é visto como um fracasso ou como uma oportunidade de aprendizagem? Existem espaços institucionalizados para que os alunos e alunas possam se manifestar, falar sobre seus processos e dores sem serem julgados?”, indaga.

Cristina Marques chama a atenção para a necessidade de um olhar que abranja o aluno como um todo. Algumas vezes, sintomas aparentemente físicos, como dores de barriga, por exemplo, podem ser sinais de uma questão que tange à saúde mental:

“Precisamos estar atentos aos sinais, instruir e capacitar a comunidade escolar para acolher e compreender as possíveis manifestações das crianças e adolescentes”. 

E quando um aluno pede para ter tratamento diferenciado, como agir?

Quando um aluno passa por momentos de ansiedade que o paralisam, muitas vezes pedem para receber um tratamento diferenciado, como fazer uma prova longe da turma. Cristina defende que cada situação seja avaliada individualmente.

“Na maioria das vezes, sim, um ambiente separado pode ajudar. Porém, já vi alunos verbalizando que a sala separada causa mais ansiedade e, diante disso, o manejo do examinador de uma prova ou de um teste deve ser diferenciado. Mas é importante que a escola avalie, junto com o aluno e a família, a melhor forma de proceder em uma avaliação”.

Renata diz que as escolas, antes de acolherem todos os pedidos deste tipo, devem se assegurar que têm espaços seguros de fala e escuta, nos quais essas demandas podem ser melhor entendidas, e não necessariamente cumpridas. 

“Se um aluno pede por isso, é importante legitimar essa solicitação e abrir espaço para o diálogo. Muitas vezes, esse pedido pode estar atrelado ao medo de uma reprovação ou de punição caso o desempenho seja insatisfatório. Acolher esse medo colocando que as consequências de um resultado não excelente não vão comprometer a vida do aluno pode ser o suficiente para que ele consiga se sentir mais seguro para realizar a prova, por exemplo. Aprender também exige esforços. Esforçar-se pode ser sofrido e até um grau de sofrimento precisa ser possível de ser contornado. É assim que as crianças e adolescentes vão amadurecendo. Se a gente priva as crianças de desafios, elas vão tendo cada vez menos recursos para superá-los”.

Entenda a importância das habilidades socioemocionais

Quando uma pessoa, seja de qual idade for, conhece seus sentimentos e sabe lidar com suas emoções, fica mais apta a identificar momentos em que precisa pedir ajuda. Por isso, a educação socioemocional nas escolas pode ser uma aliada, diz Cristina:

“É importante que haja um trabalho de autoconhecimento e que aborde as habilidades socioemocionais, dando ferramentas para os alunos lidarem com as situações de sofrimento e estresse emocional”.

Renata também destaca as vantagens de oferecer educação socioemocional no currículo. Segundo ela, desenvolver habilidades como autoconhecimento, comunicação, pensamento crítico e empatia, favorece a possibilidade de reconhecer situações de risco, de ajudar mutuamente os colegas, de prevenir a cronificação de transtornos emocionais, como a ansiedade.

Você pode conhecer mais sobre a Coala Saúde aqui!

Gostou deste conteúdo? Confira também a entrevista do Caio Lo Bianco sobre a importância da escuta e violência escolar.


Quer conhecer mais sobre o LIV e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais? Confira mais nas redes sociais e fique ligado nos episódios do nosso podcast Sinto que Lá Vem História.

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