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Escrita afetiva: como escrever pode ajudar o desenvolvimento emocional

Escrita afetiva: como escrever pode ajudar o desenvolvimento emocional?

Em entrevista ao blog do LIV, a professora, escritora e historiadora Carolina Rocha fala sobre o despertar da escrita e como ela auxilia o desenvolvimento emocional e a saúde mental em qualquer idade. Leia a seguir!

Para Carolina Rocha, embora escrever seja um atividade física que requer prática, é também um processo que ajuda a reconhecer os sentimentos e que pode auxiliar crianças, adolescentes e adultos a se expressarem melhor.

Professora, escritora e historiadora, Carolina é doutoranda no IESP-UERJ. Como autora, utiliza o pseudônimo Dandara Suburbana para assinar seus textos e já publicou nas coletâneas: “Lâmina” (Arte Sabali, 2018); “Inovação Ancestral de Mulheres Negras” (Oralituras, 2019); “Elas e as letras: insubmissão ancestral” (In-Finita, 2021), dentre outras. 

Ela também é idealizadora da Ataré Palavra Terapia, uma comunidade de incentivo à escrita criativa e terapêutica, tema sobre o qual ministrou uma oficina durante o 3º Congresso LIV Virtual. Após a oficina, ela nos concedeu a entrevista que você pode ler a seguir: 

Escrita afetiva: como escrever pode ajudar o desenvolvimento emocional? -LIV Inteligência de Vida

Entrevista LIV: Carolina Rocha – Como a escrita pode ajudar a desenvolver o emocional?


1- O que é escrever? Escrever pode ser comparado a digitar?

Carolina Rocha – “Escrever é desenhar, as letras são símbolos que desenhamos. Quando uma criança é alfabetizada, ela aprende a desenhar os símbolos do alfabeto. Além disso, não é uma atividade que se encerra na mente, escrever é movimentar-se! Escrita é corpo, é preciso um movimento integrado que não se restringe ao cérebro. É uma atividade mecânica, seus braços, tronco, peito, mãos e dedos estão se mexendo enquanto escreve. Às vezes, você está travada(o) e o motivo não tem a ver com falta de ideias ou criatividade, mas com o seu corpo que está engessado. A escrita à mão desenvolve habilidades diversas, como a coordenação motora, além do lápis e do papel serem superfícies naturais onde é possível trocar energia e deixar fluir melhor os sentimentos, de forma terapêutica. Por isso existem tantos estudos de caligrafia”. 

2- Como encontrar o caminho da escrita afetiva? Alguma dica prática para o dia a dia?

Carolina Rocha – “Escrita é um exercício físico, que envolve o corpo todo e requer prática diária. Quanto mais se escreve, melhor se escreve. Recomendo o uso de um diário, relembrar os feitos e os afazeres do dia em um caderno específico para isso, é super importante. Escrever ajuda a organizar os pensamentos, a nomear as emoções e desenvolver a memória, a cognição e a concentração”.

3- Como estimular o encontro desse caminho em crianças e jovens?

Carolina Rocha – “É importante ofertar leituras variadas, interessantes e instigantes. Além disso, entender que a escrita também está presente na música, nos filmes, nas novelas, na publicidade. Tudo isso é permeado por escrita. É possível trabalhar o exercício da escrita com crianças e jovens de forma criativa e inovadora”.

4- Qual é a relação entre leitura e escrita? É verdade que precisamos ler para escrever?

Carolina Rocha – “Diz a escritora Conceição Evaristo: “A leitura me prepara pro mundo”. Para escrever bem a pessoa precisa ler muito. Entretanto, o que significa ler muito? Temos, por vezes, uma perspectiva muito limitada sobre a leitura, que se encerra na possibilidade de acessar livros, material físico escrito. Como diz o grande mestre Candeia: “Cego é quem vê só onde a vista alcança”. Quando eu digo que considero importante ler muito, eu estou falando de perceber com sensibilidade o maior oráculo que temos: a vida.

Nós podemos enxergar com todos os nossos sentidos e não apenas a visão. Construímos narrativas a todo tempo, quando andamos na rua, quando encontramos as pessoas, quando estamos no samba, no trem ou na fila do supermercado. Ler a vida é cuidar das entrelinhas, é manter o encantamento necessário para co-criar com o universo à nossa volta”.

5- Qual é o papel da escrita afetiva e autoral nos processos de aprendizagem?

Carolina Rocha – “Escrever ajuda a reconhecer o sentimento, porque é um movimento de corpo e o nosso corpo traz à tona memórias que não estão, muitas vezes, acessíveis à nossa mente. Para reconhecer melhor o que sentimos precisamos nos conhecer, por isso a escrita autoral e também a autobiográfica são tão poderosas. Quando nos estimulamos a nos conhecermos também nos mantemos mais abertos à escuta para os outros e para os processos de aprendizagens. É como abrir portas, possibilidades, nos deixa permeáveis”. 

+ 6 motivos para escrever por motivações terapêuticas

Além das perguntas respondidas acima, durante a entrevista Carolina Rocha também indicou seis razões que podem motivar a escrita independentemente da idade. Confira o que ela diz sobre cada um desses pontos:

Escrever para dar forma aos seus desejos e sonhos.

“Escrever é criar! Energia poderosa de materialização e movimento”.

Escrever para organizar a rotina e as tarefas.

“Faça suas listas de prioridades, escrevendo você consegue perceber melhor o que é inatingível, por exemplo, e só vai trazer angústia desejar neste momento”.

Escrever para visualizar suas emoções com mais discernimento.

“Traga o seu inconsciente à tona!”

Escrever para compartilhar e perceber a conexão com outras narrativas.

“Quando contamos a nossa história e dividimos com outras pessoas algo muito importante acontece: percebemos que não estamos sozinhas e sozinhos. Nossas histórias são forjadas no coletivo. As dores que fazem você chorar são angústias de muitas outras pessoas. Existem opressões que perpassam quem somos de muitas formas. Importante discernir para não cair nessa armadilha de que: o sucesso e o fracasso são medidas individuais. Em um país de desigualdades brutais? Não mesmo. Nas oficinas que realizamos durante o congresso isso fica muito nítido, é o momento mais especial dos encontros”.

Escrever para reelaborar os traumas.

“Escrever é alterar o curso das coisas. Você mexe em emoções profundas e pode se distanciar delas e elaborar uma melhor leitura. Os traumas não desaparecem, mas podem ser realocados em lugares que não te impeçam de prosseguir. Axé!”

Escrever para “botar pra fora” o que incomoda.

“Catarse é fundamental! Desabafa, bota para fora! Funciona de forma impressionante. Fica até mais leve”.

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O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.




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