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Pensadores que inspiram: Vygotsky e o desenvolvimento das crianças


Aprenda mais sobre as teorias que inspiram a educação socioemocional! A partir de agora, todo mês o LIV vai publicar um texto contando mais sobre algum pensador que é referência para o programa. No texto de hoje, você vai conhecer mais sobre Lev Vygotsky, psicólogo bielo-russo que mudou a maneira como enxergamos as crianças.

São inegáveis as contribuições e a difusão do pensamento de Vygotsky nas instituições de educação no Brasil e no mundo. Nascido na antiga Bielo-Rússia em 1896 como Lev Semyonovich Vygotsky (sobrenome também traduzido como Vigotski, Vygotski e Vygotskij), o pensador morreu há 85 anos, deixando um caminho de pesquisa sobre o desenvolvimento infantil que vem sendo revisitado constantemente por especialistas da área e ainda hoje inspira programas educacionais.

O que fez com que as ideias de Vygotsky se tornassem tão impactantes foi sua capacidade de romper com o pensamento instituído até então. Em uma época na qual os pesquisadores estavam mais voltados a teorias inatistas, behavioristas (ou comportamentais) e pensavam que as crianças não tinham capacidade cognitiva até certa idade, ele foi pioneiro em defender que os pequenos aprendem sim por meio da exploração do ambiente e criam mecanismos próprios de aprendizagem muito antes de frequentarem a escola. Imagina quão avançado era esse tipo de ideia no começo do século passado!

Vygotsky sempre teve interesse na descrição e na explicação das funções psicológicas superiores, tais como pensamento, lembrança e planejamento, e foi pioneiro na noção de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre a partir da interação social com adultos e pares, e das condições de vida. Ele também falava, já naquela época, que o cérebro é um sistema aberto e mutável, mudando e se desenvolvendo a partir das relações com o meio e o contexto histórico nos quais cada pessoa está inserida. E é por isso que o currículo socioemocional criado pelo LIV reforça tanto a importância das relações humanas.

Os estudos de Vygotsky sobre desenvolvimento intelectual

Para entender Vygotsky é preciso levar em conta o fato de que ele enxergava o desenvolvimento do ser humano usando uma perspectiva sociocultural, ou seja, ele afirmava que o homem se constitui na interação com o meio em que está inserido. Por isso, sua teoria ganhou o nome de socioconstrutivismo ou sociointeracionismo. Nessa interação, o indivíduo não só internaliza as formas culturais que recebe do seu meio, como também intervém e as transforma. Se pensarmos nas relações atuais mediadas pela tecnologia podemos ver como esse conceito criado há quase um século ainda é inovador!

Uma vez entendido esse conceito, é possível compreender por que que ele dizia que explorar o ambiente é uma das maneiras mais poderosas que a criança tem à disposição para aprender. De acordo com sua teoria sociocultural, as interações são a base para que o indivíduo consiga compreender (por meio da internalização) as representações de seu grupo social e, dessa forma, aprender de verdade.

Aprendizagem mediada

Outro conceito central para compreender a obra de Vygotsky é a noção de mediação. Para ele, a aprendizagem mediada é fundamental para o desenvolvimento dos chamados processos mentais superiores, que incluem habilidades como planejar ações no longo prazo, imaginar as consequências que uma decisão pode causar, idealizar objetos etc.

Segundo sua teoria, para estabelecer relações, o pensamento humano cria signos intermediários que fazem o papel de mediadores. Quando o homem cria uma lista para ir ao mercado, por exemplo, está criando signos, ou seja, instrumentos psicológicos que o auxiliarão, mais tarde, na realização da ação (fazer corretamente as compras no mercado, nesse caso).

Dessa forma, tanto a linguagem quanto outras representações da realidade são sistemas simbólicos que fazem a mediação do homem com o mundo. É o próprio grupo cultural que fornece as representações e o sistema simbólico. Esse sistema varia de um grupo para outro, e muda ao longo do tempo afetado pelas próprias relações humanas.

Tais mecanismos psicológicos são complexos à primeira vista, mas serviram para mostrar como o ser humano consegue conceber objetos imaginários sem referências reais, algo essencial na aquisição de conhecimentos e que distingue o homem dos outros animais.

Vygotsky também foi um dos primeiros a acreditar que é possível aprender por meio da experiência do outro. Por exemplo, uma criança não precisa colocar a mão na chama de uma vela para saber o efeito. Esse conhecimento pode ser adquirido com o conselho da mãe. Quando o pequeno associa a representação mental da vela à possibilidade de queimadura, ocorre uma internalização do conhecimento – e ele já não precisa das advertências maternas para evitar acidentes.

Mas é a interação realizada entre indivíduos face a face que tem função central no processo de internalização. Por isso, o conceito de aprendizagem mediada confere um papel privilegiado à troca entre as pessoas e as crianças, especialmente considerando o contexto escolar entre aluno e professor.

No que diz respeito à escola, Vygotsky dizia que não se adquire conhecimentos apenas com os educadores, mas defendia que a aprendizagem é uma atividade conjunta e que relações colaborativas entre alunos podem e devem ter espaço nas salas de aula. Nesse contexto, o professor seria não um portador do conhecimento, mas sim um grande orquestrador de todo o processo de aprendizagem (mais um conceito bastante avançado para a época).

Desse raciocínio básico derivam boa parte das demais teorias de Vygotsky. Ele publicou, ainda que num curto espaço de tempo, uma obra bastante densa e completa e, embora não tenha formulado nenhuma teoria especificamente pedagógica ou metodologia de ensino, impactou a maneira como os adultos enxergavam as crianças e, com isso, abriu caminho para novas linhas de pensamento que se aprofundaram no final do século 20 e começo do século 21.

Resumo: os pilares básicos do pensamento de Vygotsky

  • O cérebro é um sistema aberto, pois é mutável. Suas estruturas são moldadas ao longo da história do homem, de seu desenvolvimento individual e nas relações com o meio;
  • O funcionamento psicológico tem como base as relações sociais, dentro de um contexto histórico e cultural;
  • A cultura é parte essencial do processo de construção da natureza humana;
  • A relação homem-mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos (signos). Entre o homem e o mundo existem elementos mediadores, que são ferramentas auxiliares da atividade humana.

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O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.