
29/09/2025
Alimentação infantil: criança pode gostar de comer bem?
Você já parou para pensar que a hora da refeição vai muito além do que colocar comida no prato? Cada gesto à mesa, cada fruta compartilhada, cada risada entre garfadas pode ser uma oportunidade de vínculo, de afeto e de descoberta desde a infância.
A alimentação infantil é um convite à reflexão sobre o papel de quem cuida. Além de nos mostrar que pequenos momentos cotidianos podem se transformar em memórias duradouras e ensinar algo valioso sobre cuidado, presença e relação
No Episódio 29 do videocast “Sinto Que Lá Vem História”, Gabriela Kapim, nutricionista e educadora, compartilha experiências que nos inspiram a olhar para a alimentação como um espaço de conexão e aprendizado, e não somente como uma obrigação nutricional.
Vamos descobrir juntos que pequenas escolhas e gestos podem transformar a refeição em momentos significativos. Acompanhe e reflita sobre como criar memórias afetivas ao redor da mesa, valorizando cada encontro com seus filhos.
As memórias conectadas a alimentação
A mesa (seja na cozinha ou em outro ambiente) é um símbolo de encontro. Muitos se lembram com carinho dela como um lugar de conversas, risadas e trocas com a família. No geral, são nessas oportunidades que se inicia o aprendizado afetivo e social, e é aqui que a alimentação pode se tornar uma experiência lúdica e significativa.
Gabriela Kapim recorda sua infância no sítio, cercada de frutas, crianças e momentos de descoberta:
“O sítio sempre foi um lugar de muita comida espalhada. Tocava o sino na hora do almoço, sentava na mesa, comia o que tem, e entre uma refeição e outra você se vira no meio do mato comendo goiaba, caqui e manga”.
A especialista também destaca como a alimentação na infância pode ser leve e sem conflitos: envolver as crianças na preparação do alimento, desde lavar a alface até montar o prato, cria uma conexão com o que será consumido e fortalece a autonomia.
Ela lembra de uma experiência marcante no programa “Socorro Meu Filho Come Mal”: crianças que auxiliavam na cozinha acabavam apreciando o alimento que preparavam, muitas vezes mais do que aquele servido pronto.
A construção do vínculo através da alimentação
Gabriela Kapim evidencia que o vínculo não depende de perfeição, mas de presença e disponibilidade emocional. Durante a amamentação ou mesmo ao oferecer a mamadeira, a atenção e o cuidado estabelecem uma base afetiva sólida. Ela observa:
“A mãe que dá a mamadeira com afeto está construindo vínculo tanto quanto a que amamenta. O importante é a conexão“.
Esse olhar reflete o princípio de que a alimentação infantil envolve a ação, conectada com afeto, rotina e aprendizado.
Ao avançar para a introdução alimentar, o convite à participação se mantém. Mostrar a banana inteira, descascar junto, conversar enquanto prepara o alimento transforma cada gesto em um momento de aprendizado.
A criança, pouco a pouco, compreende que sua ação é relevante e que suas escolhas têm valor. A abordagem não é sobre imposição, mas sobre respeito e envolvimento.
Os fundamentos para uma relação positiva com a comida
Ao longo de sua trajetória, Kapim identificou princípios que ajudam a criar hábitos alimentares saudáveis. Entre eles, o ato de comer sentado à mesa se destaca. Sentar-se em torno de um prato permite contato visual, troca de experiências e apreciação da comida.
Nesse contexto, a mesa se torna um espaço de diálogo e aprendizagem social, não apenas uma rotina de nutrição. Outro ponto é a ritualização das refeições. Em tempos acelerados, é comum que a alimentação seja apressada ou negligenciada.
Criar pausas, mesmo que breves, oferece oportunidade para desacelerar, perceber sabores e interagir com quem está à mesa. Isso valoriza o alimento e promove bem-estar físico e emocional.
A diversidade de cores e texturas também é essencial. Kapim sugere que o prato seja visualmente atrativo, convidando a criança a explorar e escolher. A regra das cinco cores, por exemplo, ensina sobre equilíbrio e oferece autonomia: “se a criança não quiser comer o feijão, pode escolher outra cor para completar a refeição”.
Essa prática trabalha responsabilidade, decisão e negociação, elementos da educação socioemocional que vão além do nutricional.
Quer saber mais sobre os benefícios da educação socioemocional? Conheça o Programa Socioemocional LIV.
O valor das pequenas refeições na construção de memórias
A alimentação infantil é, acima de tudo, um convite à reflexão sobre parentalidade e presença. Não há receita única, e cada família encontrará seus próprios caminhos. É possível criar memórias afetivas ao redor da comida, mesmo em contextos desafiadores.
A experiência cotidiana — um café da manhã rápido, um jantar compartilhado, uma fruta descascada com a criança — constrói lembranças duradouras.
Kapim reforça que é preciso evitar a pressão e a culpa: “cada gesto conta, e o importante é a consistência na presença e no cuidado, não a perfeição na execução. O foco é a aprendizagem, o vínculo e o prazer compartilhado, sempre respeitando as possibilidades de cada família”.
Resumindo: estratégias práticas
Algumas práticas destacadas no Episódio 29 do “Sinto Que Lá Vem História” podem ser incorporadas ao dia a dia:
- Participação ativa: permita que a criança lave, descasque ou corte os alimentos, mesmo que de forma supervisionada.
- Ambiente acolhedor: mantenha a mesa como espaço de conexão, sem distrações excessivas.
- Autonomia: incentive escolhas em limites saudáveis, respeitando gostos e preferências.
- Lúdico consciente: use cores e formas para despertar interesse, sem transformar toda refeição em brincadeira.
- Ritualização e rotina: estabeleça horários consistentes, usando avisos antecipados para preparar emocionalmente a criança.
Sim, a alimentação infantil se apresenta como uma oportunidade de conexão, afeto e desenvolvimento. Mais do que nutrir o corpo, ela nutre relações, memórias e habilidades socioemocionais.
Estar presente, compartilhar o momento à mesa, envolver a criança na preparação do alimento e oferecer escolhas respeitosas são práticas que constroem autonomia e vínculos afetivos profundos.
Ao refletirmos sobre esses pequenos gestos do dia a dia, percebemos que cada refeição pode se tornar um espaço de aprendizado, diálogo e prazer compartilhado.
Nesse sentido, o Episódio 29 do “Sinto Que Lá Vem História” surge como um convite especial para pais, educadores e cuidadores explorarem essas ideias na prática. Assista, inspire-se e descubra novas formas de criar memórias afetivas por meio da alimentação na infância.
O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.