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Escola mais saudável: como a natureza pode ajudar no desenvolvimento de crianças e adolescentes

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e o Instituto Alana lançaram em junho deste ano um manual de orientação para escolas, estudantes, famílias e médicos pediatras sobre os benefícios da natureza no desenvolvimento de crianças e adolescentes, mostrando como a exposição ao ar livre pode promover uma vida mais saudável.

A rotina sedentária das cidades foi a principal motivação para a criação do manual. Isso porque, segundo o documento, “apesar do bom senso e da experiência na clínica pediátrica reconhecerem os benefícios que a criança e o adolescente obtêm através do brincar e das atividades de lazer e aprendizado ao ar livre, em contato com a natureza, o fato é que em contextos urbanos eles têm cada dia menos oportunidades de usufruir desse direito universal”.

E de fato, é verdade. Basta olhar em volta para ver diversos fatores que são responsáveis pelo contexto de confinamento ao qual, de certa forma, todos estamos sujeitos: dinâmica familiar, planejamento urbano, mobilidade, uso de eletrônicos, consumismo, desenvolvimento econômico, desigualdade social, insegurança, violência, conservação da natureza e educação. “Trata-se de um cenário complexo, cujos fatores estão inter-relacionados e que variam de intensidade, dependendo da condição socioeconômica e da realidade específica de cada um”.

Assim, focando em orientações práticas, a publicação trás referências específicas sobre como cada um dos atores sociais (educadores, famílias, pediatras, e crianças e adolescentes) pode agir para promover uma vida mais saudável e com mais atividades ao ar livre. No que diz respeito à escola, o material ressalta que enfrentamos inúmeros desafios para oferecer uma experiência significativa e valiosa para o aluno.

Um deles é a necessidade de refletir e requalificar as práticas, a organização, as rotinas e o tempo escolar, reconhecendo o brincar e a natureza como elementos centrais de uma educação vinculada com a própria vida. Brincar na areia, subir em árvores, construir cabanas e encontrar os amigos ao ar livre, por exemplo, são experiências importantes que permitem estabelecer conexões positivas com a vida e com o outro. “Se esses momentos não tiverem lugar na escola ou em outros territórios educativos, talvez não aconteçam na vida de muitas crianças e adolescentes que hoje passam a maior parte do seu tempo em instituições escolares”, alerta a publicação.

Confira a seguir nove recomendações voltadas para escolas e educadores indicadas pela SBP:

  1. Recomenda-se uma avaliação do processo educacional no sentido de rever os espaços, as práticas, a organização, as rotinas e o tempo escolar, reconhecendo o valor educativo do ato de brincar e do aprender com a natureza.
  2. Em relação aos espaços, sugere-se que toda a escola seja pensada e planejada com o objetivo de facilitar o acesso da comunidade escolar ao ar livre e à natureza. Imagine, por exemplo, o que aconteceria se as escolas trocassem o cimento por terra, areia e árvores?
  3. Recomenda-se ampliar a concepção de que o aprendizado só ocorre dentro da escola, especialmente nas salas de aula, e valorizar todo espaço ao ar livre, assim como os espaços além dos muros. Procurar referências de sucesso de territórios educativos, cidades educadoras e comunidades de aprendizado que privilegiam a natureza como pilar de seus projetos pedagógicos também podem ajudar. Além disso, visitas de campo, estudos do meio, excursões e passeios também são ótimas estratégias e devem ser tão frequentes quanto possível.
  4. Ouvir o que as crianças e os adolescentes têm a dizer sobre os espaços escolares e procurar incorporar a estes seus desejos e suas percepções, qualificando-os e tornando-os melhores para eles e para os demais membros da comunidade escolar.
  5. Sempre que possível oferecer às crianças brinquedos de madeira, utensílios de cozinha de louça, madeira ou metal e muitos elementos naturais como pedras, folhas, galhos, conchas. Nesse sentido, brinquedos e utensílios de plástico, borracha EVA (mistura de etil, vinil e acetato) e materiais descartáveis de baixa qualidade devem ser evitados.
  6. O consumo de alimentos na escola também pode ser aproveitado para promover a conexão entre a criança e a natureza. Um processo cuidadoso de plantio, cultivo, colheita e preparo de alimentos que envolva toda a comunidade escolar pode trazer conhecimentos e hábitos alimentares saudáveis duradouros.
  7. Atentar para o fato de que o contato da criança com a natureza no ambiente escolar não deve se restringir às atividades ligadas à educação ambiental. Essas atividades são muito relevantes, mas geralmente estão associadas à análise e estudo de questões ligadas à sustentabilidade e conservação da natureza e são predominantemente cognitivas. Antes de ser apresentada aos problemas ambientais, a criança precisa experimentar a natureza em sua plenitude e beleza, tornar-se íntima dela e vincular-se afetivamente. A conexão emocional entre a criança e a natureza vai auxiliá-la a adotar atitudes que contribuam para uma sociedade sustentável e que respeitem todas as formas de vida.
  8. É fundamental planejar e executar processos de formação que busquem o aprimoramento do olhar do educador para os espaços escolares e para a potência das experiências educacionais que acontecem nos pátios e em outros territórios educativos naturais. Para desemparedar as crianças e jovens é preciso desemparedar-se!
  9. Envolver as famílias no “processo de desemparedamento” porque, mesmo que às vezes elas ajam como grandes barreiras, podem transformar-se em importantes apoiadoras da instituição de ensino. A escola e os educadores têm um papel fundamental nessa sensibilização.


O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.