
08/05/2019
Pensadores que inspiram: Vygotsky e o desenvolvimento das crianças
Aprenda mais sobre as teorias que inspiram a educação socioemocional! A partir de agora, todo mês o LIV vai publicar um texto contando mais sobre algum pensador que é referência para o programa. No texto de hoje, você vai conhecer mais sobre Lev Vygotsky, psicólogo bielo-russo que mudou a maneira como enxergamos as crianças.
São inegáveis as contribuições e a difusão do pensamento de Vygotsky nas instituições de educação no Brasil e no mundo. Nascido na antiga Bielo-Rússia em 1896 como Lev Semyonovich Vygotsky (sobrenome também traduzido como Vigotski, Vygotski e Vygotskij), o pensador morreu há 85 anos, deixando um caminho de pesquisa sobre o desenvolvimento infantil que vem sendo revisitado constantemente por especialistas da área e ainda hoje inspira programas educacionais.
O que fez com que a teoria de aprendizagem de Vygotsky se tornasse tão impactante foi sua capacidade de romper com o pensamento instituído até então. Em uma época na qual os pesquisadores estavam mais voltados a teorias inatistas, behavioristas (ou comportamentais) e pensavam que as crianças não tinham capacidade cognitiva até certa idade, ele foi pioneiro em defender que os pequenos aprendem sim por meio da exploração do ambiente e criam mecanismos próprios de aprendizagem muito antes de frequentarem a escola. Imagina quão avançado era esse tipo de ideia no começo do século passado!
Vygotsky sempre teve interesse na descrição e na explicação das funções psicológicas superiores, tais como pensamento, lembrança e planejamento, e foi pioneiro na noção de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre a partir da interação social com adultos e pares, e das condições de vida. Ele também falava, já naquela época, que o cérebro é um sistema aberto e mutável, mudando e se desenvolvendo a partir das relações com o meio e o contexto histórico nos quais cada pessoa está inserida. E é por isso que o currículo socioemocional criado pelo LIV reforça tanto a importância das relações humanas.
Os estudos de Vygotsky sobre desenvolvimento intelectual
Para entender Vygotsky é preciso levar em conta o fato de que ele enxergava o desenvolvimento do ser humano usando uma perspectiva sociocultural, ou seja, ele afirmava que o homem se constitui na interação com o meio em que está inserido. Por isso, sua teoria ganhou o nome de socioconstrutivismo ou sociointeracionismo. Nessa interação, o indivíduo não só internaliza as formas culturais que recebe do seu meio, como também intervém e as transforma. Se pensarmos nas relações atuais mediadas pela tecnologia podemos ver como esse conceito criado há quase um século ainda é inovador!
Uma vez entendido esse conceito, é possível compreender por que que ele dizia que explorar o ambiente é uma das maneiras mais poderosas que a criança tem à disposição para aprender. De acordo com sua teoria sociocultural, as interações são a base para que o indivíduo consiga compreender (por meio da internalização) as representações de seu grupo social e, dessa forma, aprender de verdade.
Aprendizagem mediada
Outro conceito central para compreender a obra de Vygotsky é a noção de mediação. Para ele, a aprendizagem mediada é fundamental para o desenvolvimento dos chamados processos mentais superiores, que incluem habilidades como planejar ações no longo prazo, imaginar as consequências que uma decisão pode causar, idealizar objetos etc.
Segundo a teoria de aprendizagem de Vygotsky, para estabelecer relações, o pensamento humano cria signos intermediários que fazem o papel de mediadores. Quando o homem cria uma lista para ir ao mercado, por exemplo, está criando signos, ou seja, instrumentos psicológicos que o auxiliarão, mais tarde, na realização da ação (fazer corretamente as compras no mercado, nesse caso).
Dessa forma, tanto a linguagem quanto outras representações da realidade são sistemas simbólicos que fazem a mediação do homem com o mundo. É o próprio grupo cultural que fornece as representações e o sistema simbólico. Esse sistema varia de um grupo para outro, e muda ao longo do tempo afetado pelas próprias relações humanas.
Tais mecanismos psicológicos são complexos à primeira vista, mas serviram para mostrar como o ser humano consegue conceber objetos imaginários sem referências reais, algo essencial na aquisição de conhecimentos e que distingue o homem dos outros animais.
Vygotsky também foi um dos primeiros a acreditar que é possível aprender por meio da experiência do outro. Por exemplo, uma criança não precisa colocar a mão na chama de uma vela para saber o efeito. Esse conhecimento pode ser adquirido com o conselho da mãe. Quando o pequeno associa a representação mental da vela à possibilidade de queimadura, ocorre uma internalização do conhecimento – e ele já não precisa das advertências maternas para evitar acidentes.
Mas é a interação realizada entre indivíduos face a face que tem função central no processo de internalização. Por isso, o conceito de aprendizagem mediada confere um papel privilegiado à troca entre as pessoas e as crianças, especialmente considerando o contexto escolar entre aluno e professor.
No que diz respeito à escola, Vygotsky dizia que não se adquire conhecimentos apenas com os educadores, mas defendia que a aprendizagem é uma atividade conjunta e que relações colaborativas entre alunos podem e devem ter espaço nas salas de aula. Nesse contexto, o professor seria não um portador do conhecimento, mas sim um grande orquestrador de todo o processo de aprendizagem (mais um conceito bastante avançado para a época).
Desse raciocínio básico derivam boa parte das demais teorias de Vygotsky. Ele publicou, ainda que num curto espaço de tempo, uma obra bastante densa e completa e, embora não tenha formulado nenhuma teoria especificamente pedagógica ou metodologia de ensino, impactou a maneira como os adultos enxergavam as crianças e, com isso, abriu caminho para novas linhas de pensamento que se aprofundaram no final do século 20 e começo do século 21.
Teoria de aprendizagem de Vygotsky: qual é o papel do professor?
Na teoria de aprendizagem de Vygotsky, o professor tem um papel de mediador, alguém que cria condições para que o aluno avance em seu desenvolvimento intelectual. Esse papel é essencial porque, para o pensador, o conhecimento não é algo transmitido de forma direta, mas construído na interação entre indivíduos.
Assim, cabe ao educador identificar os potenciais de cada estudante e oferecer os recursos e estímulos necessários para que ele consiga alcançar níveis mais complexos de compreensão.
Isso significa que a escola deve ser entendida como um espaço de trocas, no qual o professor orienta, provoca reflexões e organiza situações de aprendizagem colaborativa.
Ao agir dessa forma, ele ajuda os alunos a explorar sua chamada “zona de desenvolvimento proximal”, conceito central para Vygotsky, que mostra como o aprendizado acontece melhor quando o estudante recebe apoio de alguém mais experiente até que consiga agir com autonomia.
Resumo: os pilares básicos do pensamento de Vygotsky
- O cérebro é um sistema aberto, pois é mutável. Suas estruturas são moldadas ao longo da história do homem, de seu desenvolvimento individual e nas relações com o meio;
- O funcionamento psicológico tem como base as relações sociais, dentro de um contexto histórico e cultural;
- A cultura é parte essencial do processo de construção da natureza humana;
- A relação homem-mundo é uma relação mediada por sistemas simbólicos (signos). Entre o homem e o mundo existem elementos mediadores, que são ferramentas auxiliares da atividade humana.
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O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.