Blog
Todas as publicações
Um grupo de crianças de diferentes raças brincam felizes.

Casos de racismo em escolas: entenda como reforçar a educação antirracista

Infelizmente,  casos de racismo em escolas não são uma novidade. Mas cada vez que um novo episódio vem à tona, mostra o quanto ainda precisamos conversar, refletir e agir coletivamente para transformar a realidade escolar em um espaço verdadeiramente acolhedor para todas as pessoas. 

Um dos episódios mais recentes nos lembra com força que atitudes racistas devem ser enfrentadas com firmeza e consciência. Um aluno chegou a ser expulso após cometer repetidas agressões de cunho racista contra um colega. 

A escola, ao tomar conhecimento, aplicou as sanções previstas, reforçando seu compromisso com a dignidade e o respeito, reafirmando a importância de construir um ambiente seguro de convivência. 

Mas fica a pergunta: como chegamos até aqui? Por que ainda vivenciamos o racismo em pleno século XXI? E, principalmente, como evitamos que episódios assim continuem a se repetir?

Por que falar de racismo nas escolas o ano inteiro?

O Brasil tem um marco simbólico no calendário para refletir sobre essa temática: o 20 de novembro, Dia da Consciência Negra. A data é importante, mas não basta. O racismo em escolas é um reflexo de uma estrutura social maior; e combatê-lo requer um esforço contínuo, coletivo e, acima de tudo, educativo. 

Não há espaço para a omissão quando se trata da dignidade e da segurança emocional de crianças e adolescentes. Falar sobre racismo nas escolas não é “ideologizar”, mas reconhecer realidades, escutar vivências e abrir espaço para outras narrativas. 

Como destaca a Psicopedagoga e  Educadora Clarissa Brito, “ser antirracista é uma escolha consciente, tanto individual quanto coletiva.  Toda hora você vai parar e pensar nas intenções, nas escolhas que a gente vai fazer”. 

Esse compromisso precisa estar visível no currículo, nas rodas de conversa, nos murais da escola e, principalmente, nas práticas cotidianas. E há base legal para isso: as escolas podem (e devem) adotar práticas pedagógicas conforme a Lei n.º 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino da História e Cultura afro-brasileira em todas as instituições de ensino básico do país. 

A lei é um passo importante, mas sua aplicação efetiva ainda depende do engajamento de todos os envolvidos na comunidade escolar.

O que significa ser antirracista?

Ser antirracista é ir além do “não ser racista”. É agir, rever escolhas, ampliar repertórios e, muitas vezes, reconhecer o próprio desconhecimento. Para Clarissa Brito, “o ambiente antirracista é qualquer espaço que se compromete com aquilo que é contra uma violência simbólica ou epistêmica”. 

E isso vale para toda a comunidade escolar; não só educadores, mas também alunos, familiares e colaboradores. Esse comprometimento passa por práticas diárias: desde a escolha dos livros até a seleção de imagens que circulam pela escola. 

Será que só se convida uma pessoa negra para palestrar quando o tema é racismo? Os materiais escolares mostram a diversidade étnica do nosso país? Essas são perguntas que ajudam a desenhar novas práticas. E, aos poucos, novos imaginários sociais.

Educação antirracista começa com o acolhimento

Fazer uma escola antirracista significa olhar para o espaço escolar na totalidade: quais histórias estão sendo contadas? Quais vozes estão sendo ouvidas? Quem está representado nos livros, nas ilustrações, nas referências que usamos? 

Clarissa reforça que “a história negra não é a história do racismo. Nós sempre contamos o impacto do racismo, mas deixamos de contar a potência do viver e do pensar negro.”

Para mudar esse cenário, é necessário escutar com atenção, valorizar a diversidade e ressignificar as referências. A escola deve ser o espaço onde os alunos se sintam representados, seguros e respeitados. É isso que transforma o aprendizado em pertencimento.

Como envolver toda a comunidade escolar?

O caminho para uma escola mais justa precisa incluir todo mundo: professores, alunos, colaboradores e famílias. Clarissa defende: “O primeiro movimento é fazer com que todas as pessoas dentro da escola entendam que ela é um campo de reconstrução”. 

Confira a entrevista completa com Clarissa Brito

E, nesse processo, é importante abrir espaço para o diálogo, a escuta ativa e a partilha de experiências. Não se trata de impor verdades, mas de construir saberes juntos. A formação antirracista é também um processo socioemocional: ela ajuda a desenvolver empatia, escuta, consciência crítica e coragem para lidar com conflitos. 

Por isso, no LIV, assumimos o compromisso de promover uma educação que acolha a diversidade como valor central, e que esteja em sintonia com a Lei n.º 10.639/2003.

A Trilha Antirracista do LIV: um passo na direção certa

Foi com esse olhar que o LIV criou a Trilha “Por uma Escola Antirracista”, parte do percurso formativo dos educadores das escolas parceiras. A proposta é simples, mas potente: ajudar professores e gestores a pensar novas práticas, abordagens e reflexões que reforcem o combate ao preconceito e promovam a diversidade.

Dividida em cinco módulos, a trilha trabalha desde o conceito de escolas antirracistas até o resgate de narrativas afro-brasileiras silenciadas ao longo da história. Também estimula um olhar atento à representatividade: será que estamos sempre priorizando referências brancas, sem perceber a ausência de outras etnias no cotidiano escolar?

Mais do que uma formação, essa trilha é um convite à transformação. Muitos educadores que vivenciaram a experiência relataram o impacto positivo do percurso: ao compreenderem com mais profundidade as desigualdades raciais, se sentiram mais preparados para atuar como agentes de mudança. 

Também reconheceram o quanto ainda há para aprender, bem como a urgência de falar sobre temas que, por vezes, permanecem invisíveis nas salas de aula.

Em conclusão, por onde seguir?

Não há roteiro pronto. Mas há caminhos possíveis:

  • O primeiro é acolher: a vítima, a família, os colegas e educadores. 
  • O segundo é refletir: como esse caso se conecta com a cultura da escola? 
  • O terceiro é agir: aplicar as medidas cabíveis, sim, mas também revisar práticas, promover formações, dialogar com a comunidade. 

Cada episódio é um alerta, mas também uma oportunidade de transformação. E, se quisermos mudar a realidade, não podemos deixar o debate somente para novembro. Só assim conseguimos sair do campo das intenções e transformar atitudes.

Os casos de racismo em escolas não podem mais ser tratados como exceção. Eles são sintomas de algo maior e, por isso mesmo, precisam ser enfrentados com seriedade, empatia e compromisso.

Nosso artigo ajudou a refletir sobre casos de racismo em escolas? Se você é gestor escolar, educador ou responsável e deseja fazer parte dessa transformação, conheça o Programa Socioemocional do LIV. Descubra como a escola pode construir uma educação mais consciente, diversa e inclusiva.

 Leia também sobre acolhimento escolar


Navegue por tags:



O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.