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LIV conversa com Monica Lobo sobre mediação de conflitos

“O inferno são os outros”. A frase do filósofo existencialista Jean Paul Sartre resume com maestria as dificuldades que a convivência costuma trazer. Nem sempre é fácil encontrar o outro, e se deparar com maneiras distintas de ser e estar no mundo.

No trabalho, na rua, na escola ou dentro de casa, somos desafiados o tempo todo por essas diferenças.  E, se não soubermos lidar com o estranhamento que nos causa o que é de nós tão desigual, podemos acabar sendo reativos e nos envolver em conflitos que, muitas vezes, podem deixar de ser construtivos e levar à um combate.

Nas escolas, é natural que muitos problemas surjam, já que a convivência é intensa. E, no contato com o outro, sempre vai existir algum tipo de frustração. O importante é aprendermos a como lidar com ela.

Entre as famílias, a questão é também delicada, pois nas nossas relações costumamos esperar que o outro pense e aja como nós pensamos e agimos – e isso aparece de forma ainda mais intensa na relação entre pais e filhos. Quebrar essa expectativa demanda trabalho, mas é possível e um excelente caminho para um dia a dia mais saudável. 

Para entender um pouco mais sobre os desafios da convivência, o LIV conversou com a terapeuta Monica Lobo, especialista em mediação de conflitos. Ela falou sobre a necessidade de ter uma escuta ativa, sobre a importância da diferenciação entre pais e filhos, e sobre o tripé que ela acredita ser necessário para tornar as famílias mais funcionais.

Confira alguns destaques da entrevista:

Como tornar o ambiente familiar mais harmônico?

“A convivência, dentro de qualquer sistema, seja escolar ou familiar, precisa ter três pontas. A primeira é a clareza hierárquica. Na família, por exemplo, os executivos seriam os pais. Os avós, os conselheiros e as crianças, os funcionários. Essa hierarquia precisa ser preservada.

O segundo ponto são as fronteiras. Existe a hora em que o papai e a mamãe vão conversar e a criança vai ter que ir para o quarto para dormir ou ler, por exemplo.  

O terceiro ponto é o da aliança. Elas acontecem em todas as famílias, ora a mãe vai se juntar com o filho para pedir pizza, ora com o marido para dizer que precisam de ‘comida de verdade’. Essas alianças precisam ser fluidas. Se não forem flexíveis, viram uma coalizão. É muito importante esse tripé para a funcionalidade da família”.

O diálogo é o melhor caminho. Mas é possível estabelecê-lo no cotidiano?

Monica destacou que o diálogo é fundamental, mas afirmou que nem sempre ele acontece de forma verdadeira. Trocar frases, sem prestar atenção na fala do outro e em suas implicações, não é dialogar.  É preciso, defendeu a terapeuta, ter um canal aberto para a escuta ativa.

“A gente precisa de escuta e fala cuidadosas. Lidamos pouco com a habilidade de escuta. Escutar não significa concordar, mas prestar atenção ao que o outro fala e dizer ‘não estou entendendo direito, pode falar de outra maneira’ ou ‘quando você fala isso, eu me sinto dessa forma. É isso mesmo?’. E, ao mesmo tempo, é preciso reconhecer e valorizar o interlocutor. É muito comum pais de adolescentes dizerem ‘você não conhece isso, não viveu isso’,  já com uma fala pronta. Mas é preciso ter curiosidade e entender por que o filho está falando aquilo, entrar no mundo dele”.


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Na adolescência, os conflitos ficam mais intensos?

Os pais costumam idealizar os filhos e imaginá-los como uma xerox deles mesmos. A realidade atropela essa fantasia em quase todas as famílias. E essa ruptura fica ainda mais clara na adolescência. Monica explica que é neste período que a diferenciação acontece com mais intensidade e defendeu que, quanto mais os pais entenderem que o filho é diferente deles, melhor. Dessa forma, a convivência pode permanecer harmônica.

“Na adolescência, fica reforçado que, para poder continuar tendo diálogo, os pais precisam entender, por exemplo, que eles são Flamengo, e os filhos Fluminense ou Vasco. Quando o filho resolve pintar uma mecha colorida no cabelo ou botar um piercing, a mãe pode pensar: ‘o que a minha mãe vai achar, que eu não estou dando conta?’ E aí começa a brecar, a não entender que o filho está em busca de uma identidade própria, que aquilo é transitório. Claro que tem limite, não vamos deixar um adolescente de 15 anos sair para beber, mas temos que entender que o garotinho não vai mais se vestir com a roupa que seus pais querem”.

O papel da escola diante das dificuldades de convivência 

A dificuldade de convivência, e o olhar preconceituoso para o outro, acaba, muitas vezes, gerando conflitos, alguns facilmente contornáveis, outros muito sérios. Para Monica, a origem de alguns episódios de violência nas escolas está na exclusão das crianças e adolescentes, que é amplificada pelas redes sociais.

“Nas redes, as crianças e adolescentes excluídas encontram o pertencimento, ficam na bolha dos que sofrem bullying, que alimenta a vitimização. E aí está montado o que a gente vê hoje em dia: crianças e adolescentes que, por exclusão e discriminação, vão criando posturas de revanchismo e ataques”.

Para a terapeuta, um dos papéis da escola é trabalhar justamente o que faz a criança ser ou se sentir excluída:

“É importante que as escolas tenham a sensibilidade de trabalhar essas diferenças de lentes. Por que a criança está excluída? Como ela se sente? Às vezes, ela faz coisas  e vou estigmatizá-la, colocar num lugar do qual ela não consegue sair?”, questiona, lembrando que o papel da escola é estimular a empatia, trabalhar as diferenças. “Uma forma de prevenir é a escola fazer isso dentro do seu próprio ambiente, a partir dos seus profissionais, conversando com seus funcionários”, defendeu a especialista em mediação de conflitos.

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O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.