09/08/2024
Thiago Queiroz fala sobre mudanças na paternidade no videocast do LIV
De provedor a parceiro: mais conhecido como “Paizinho, Vírgula!” nas redes sociais, Thiago fala sobre as novas perspectivas em torno da paternidade hojeO homem distante, que só se aproxima dos filhos na hora do jantar, geralmente para perguntar sobre o desempenho na escola ou recriminar por algo que a criança ou adolescente tenha feito, costuma ser retratado em filmes, mas também é uma realidade na vida de muitas famílias. Esse modelo de pai, que não aposta no afeto e nem entende que a criação de uma criança é uma tarefa conjunta, está começando a ser combatido, mas a verdade é que ainda existem muitas barreiras a serem derrubadas.
Por isso, no novo episódio do videocast do LIV, “Sinto que Lá Vem História”, Renata Ishida e Joana London, gerente pedagógica e diretora pedagógica do programa de desenvolvimento socioemocional, respectivamente, convidaram um dos pais que estão tentando quebrar tradições, abraçar novos modelos de paternidade e engajar outros homens na mesma jornada. Elas conversaram, de forma descontraída e muito verdadeira, com o psicanalista, escritor e educador parental Thiago Queiroz, pai de quatro, e que faz sucesso nas redes sociais há onze anos, desde que seu primogênito nasceu, com o perfil “Paizinho, Vírgula”.
Olhar para o passado e reescrever o futuro
Thiago, que acaba de lançar um novo livro, “O Poder do Afeto”, abriu o bate-papo contando que era uma criança tímida, que cresceu com as cobranças do pai por desempenho escolar. O que sobrava de interesse pelas notas da escola, faltava, diz, em abraços. Foi por conta disso que resolveu, ao ter o primeiro filho, apostar em uma nova forma de convivência.
“Vinha daquela criação de cobrança por resultados e, hoje em dia, é muito difícil eu me desconectar dessa ideia de que, para você ter valor, para ser amado ou digno de ser amado, você precisa de uma boa nota. Então eu prometi a mim mesmo que eu não faria o mesmo com os meus filhos”.
Thiago relembrou também que a ideia não é fazer um acerto de contas com os pais e apontar erros, mas entender que é possível trilhar caminhos diferentes.
“A gente é atravessado pelas histórias da nossa infância, não no sentido de“eu quero fazer melhor que os meus pais, porque eles erraram”. Era o caminho que eles tinham, com a informação disponível, no contexto social e histórico da época. Eu quero fazer o meu próprio caminho e a minha escrita da paternidade vem muito desse lugar de fazer diferente, mesmo sem referências, sabe?”
O impacto (e a solidão) do primeiro filho
Quando Dante, o primeiro filho, nasceu, Thiago contou que tinha certeza de que não queria exercer o papel de provedor, economizar abraços e negar beijos. “Eu falava que queria ter uma relação de amizade. Eu queria alguma coisa diferente, só não sabia como”. Um “empurrãozinho”, disse Thiago, foi dado por sua companheira, que decidiu ter um parto domiciliar. Preocupado, Thiago começou a ler tudo sobre o assunto e acabou entendendo muito sobre o nascimento em casa e também como a experiência pode ser mais afetiva do que a oferecida dentro de um hospital.
“Aquilo foi me mudando, foi um bichinho que me picou. Ali eu falei, não dá para eu fazer o padrão com o Dante agora, eu já me esforcei tanto para fazer diferente esse início, quero que seja diferente todo o resto, quero estar perto, poder me emocionar na frente dele, abraçar, beijar e falar que amo meu filho”.
Da necessidade de compartilhar experiências nasceu o “Paizinho, Vírgula!”. Não havia na época homens falando sobre como foi desafiador o primeiro mês de vida do filho, sobre como foi difícil encarar as dificuldades de amamentação da esposa e assuntos afins.
“Me senti muitas vezes sozinho porque não tinha outros pais ali para conversar. Eu queria ir para o trabalho e conversar sobre isso. Mas os caras não queriam conversar sobre filhos comigo, queriam falar de futebol, política, e eu acabava conversando sobre filhos com as minhas colegas de trabalho”.
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Amor se constrói no dia a dia
No episódio, Thiago Queiroz também falou sobre a construção de vínculos com os filhos e sobre a romantização do amor imediato diante da chegada de um bebê. Além disso, conversou sobre a delicada relação que se estabelece na família durante o puerpério, quando os pais precisam muitas vezes readequar sua participação na rotina da casa.
“A mãe que está ali está amamentando, está fazendo um monte de coisa, ela está precisando de cuidado. Então, o pai precisa entender que ele vai ter que assumir um papel de cuidar, de parceria, no sentido de ver se a esposa está precisando de água, se tem comida, se tem fruta em casa. Se ele não cozinha, e ela também não, vai ter que dar um jeito. O pai não consegue parir nem amamentar. Agora, o resto consegue fazer.”.
Os papéis que a sociedade impõe
Thiago lembrou ainda que nenhuma mãe nasce pronta e pai, muito menos. Numa sociedade que costuma, em grande parte dos lares, incentivar apenas que as meninas brinquem de bonecas, as mulheres, ao se tornarem mães, se sentem pressionadas a assumir um papel ativo, enquanto os homens, disse Thiago, são deixados de lado e muitas vezes se acomodam a um papel menos ativo.
“O menino cresceu, nunca brincou daquilo, não vai ter desenvolvido muitas habilidades nem facilidades. A mulher também não, mas ela vai aprender porque ela sabe que é obrigação dela; as pessoas vão cobrar que ela aprenda a trocar fralda. Ela pode nunca ter trocado fralda na vida, vai trocar uma ou duas erradas e vai aprender, mas o homem, não. Dizem“tadinho, não consegue.”.
Fugir deste local, lembrou Thiago, dá trabalho. O homem precisa estar não só disponível para uma paternidade ativa, mas disposto a enfrentar dinâmicas familiares já enraizadas.
“O homem precisa bater o pé para fazer a função dele de cuidado. Ele precisa querer também, porque existem muitas dinâmicas familiares que já chegaram a mim, de pais que falam que tentam fazer, mas as esposas não deixam, dizem que ele faz tudo errado. O pai tem que chegar e falar “eu sei que eu não posso fazer igual a você, mas eu preciso tentar. Eu preciso descobrir a forma que eu vou fazer para colocar os meus filhos para dormir, para trocar fralda, que vai ser diferente do jeito da mãe, mas que não está errada.”.
No episódio #19, do “Sinto que Lá Vem História”, que celebra a semana do Dia dos Pais, Thiago Queiroz também falou sobre a importância de ter tempo de qualidade com os filhos, sobre ter um olhar individualizado para cada criança e sobre a aposta permanente no diálogo e também sobre a necessidade de ter espaços de fala.
Quer conhecer mais sobre o LIV e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais? Confira mais nas redes sociais e fique ligado nos próximos episódios do Sinto que Lá Vem História.
O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.