30/10/2025
O impacto das expectativas das famílias nas crianças e adolescentes
Quais são os sonhos que você projeta sobre o futuro do seu filho? Essa é uma pergunta que, à primeira vista, parece simples. Mas, na prática, ela carrega camadas de afetos, memórias e responsabilidades. As expectativas das famílias nas crianças e adolescentes podem funcionar como incentivo, mas também como fontes de ansiedade e frustração.
Neste artigo, convidamos você, pai, mãe ou educador, a refletir sobre como as expectativas moldam a trajetória das novas gerações — e de que forma podem se tornar pontes de desenvolvimento ou apenas mais uma pressão.
Expectativas: entre o cuidado e a pressão
Ter expectativas é natural. Os pais e professores desejam que crianças e jovens sejam felizes, aprendam bem, tenham amigos e conquistem uma vida próspera. Porém, o desafio está em equilibrar o incentivo com o respeito ao ritmo individual.
Muitas vezes, a intenção é de cuidado. Afinal, quem não gostaria que o filho, como diz uma frase clássica: “tivesse mais oportunidades do que eu tive”? Mas quando a expectativa se transforma em cobrança excessiva, a criança pode sentir que seu valor está condicionado ao desempenho, às notas ou ao comportamento idealizado.
Esse movimento é sutil. Uma frase repetida (“você pode mais do que isso”), uma comparação com irmãos ou colegas, ou até o silêncio diante de conquistas pequenas podem gerar a sensação de que nunca é suficiente.
Diferenças geracionais: novos desafios
No geral, os pais que cresceram nos anos 80 e 90 trazem consigo a marca de uma educação mais rígida, muitas vezes baseada na disciplina e no “não ter escolha”. Hoje, esse modelo convive com uma realidade em que se fala mais sobre escuta, autonomia e respeito às emoções.
O resultado pode ser um choque de gerações. Muitos adultos sentem medo de repetir padrões de autoritarismo, mas também receiam “ser permissivos demais”. Entre esses dois extremos, surge a necessidade de construir novas formas de educar, mais conscientes e equilibradas.
É nesse espaço de tensão que as expectativas se tornam visíveis: até que ponto estou projetando no meu filho a história que vivi — ou gostaria de ter vivido?
Quando a expectativa vira ansiedade
Podemos dizer que uma das principais causas de ansiedade entre adolescentes está ligada às cobranças relacionadas ao desempenho escolar e ao vestibular.
O vestibular, por si só, já é um momento de pressão. Mas, quando somado a frases como “você precisa passar na Federal” ou “não pode desperdiçar essa chance”, transforma-se em um peso difícil de carregar.
Essa ansiedade não aparece somente nos anos finais da escola. Ela pode começar na infância, quando a criança sente que precisa “ser a melhor” em tudo — no esporte, na música, na sala de aula. A comparação constante mina a autoconfiança e pode levar a uma relação desgastada com os estudos e até com a própria família.
O papel da escola nessa construção
Quando uma criança sente que só é valorizada se tira notas altas, pode perder o prazer de aprender. Por outro lado, quando os educadores e responsáveis reconhecem suas conquistas individuais, ela ganha segurança para se arriscar, errar e tentar de novo.
É nesse ponto que a educação socioemocional se torna tão importante. Trabalhar as emoções, a empatia e a escuta ativa em sala de aula ajuda a criança a se compreender melhor — e também a lidar com as expectativas externas.
Muitos colégios que adotam um programa socioemocional percebem mudanças significativas no clima escolar: alunos mais confiantes, famílias mais envolvidas e professores com novas ferramentas para apoiar o desenvolvimento integral.
Estratégias para equilibrar expectativas
Não há receita única, mas alguns movimentos podem ajudar famílias e educadores a construir relações mais saudáveis. Vamos relembrar alguns dos aprendizados citados até aqui:
- Escuta ativa: abrir espaço para que crianças e adolescentes expressem suas opiniões, sem julgamentos imediatos.
- Valorização do processo: celebrar o esforço, não apenas o resultado.
- Exemplo de flexibilidade: mostrar que mudar de ideia ou de caminho é parte da vida.
- Diálogo intergeracional: reconhecer que pais e filhos vivem contextos diferentes — e que isso não diminui os sonhos de cada um.
- Rede de apoio: contar com a escola, amigos e familiares na construção de um ambiente menos solitário.
Essas práticas não eliminam as expectativas, mas as tornam mais realistas, humanas e, sobretudo, respeitosas.
Como não repetir os traumas?
No episódio do videocast do LIV: Sinto Que Lá Vem História — “Filhos ou espelhos? O impacto das nossas expectativas nas crianças” —, a jornalista e mãe Bela Reis compartilha sua vivência sobre essa questão.
Ela narra como as altas expectativas da mãe, fruto de uma trajetória marcada por dificuldades, acabaram gerando conflitos na adolescência. Ao mesmo tempo, reconhece o quanto se sentiu amada e apoiada para expressar sua autonomia.
Esse relato mostra algo essencial: não se trata de eliminar expectativas, mas de transformá-las em diálogos. Bela conta que, hoje, em sua maternidade, busca criar “novos traumas” — ou seja, cometer erros inevitáveis, mas não repetir padrões de autoritarismo ou silenciamento que recebeu.
“Quero que meu filho possa discordar de mim. Vamos ter brigas, teremos nossas tretas, mas nunca abrirei mão dessa relação. A adolescência pode ser desafiadora, e estaremos todos — inclusive na terapia — para atravessar esses momentos. Não quero que ele viva para me agradar.
Por isso, já me acostumei com esse espaço de discordância e negociação, algo que faço de forma muito diferente do que vivi nos anos 90, quando não havia espaço para escolher: era ‘faça porque eu mandei’”, conta Bela.
Ao refletirmos sobre isso, percebemos que cada geração tem a chance de recalcular a rota. Escutar, negociar e reconhecer os limites da criança não diminuem a autoridade dos pais. Pelo contrário: fortalecem o vínculo de confiança.
Convite para reflexão
Para compreender ainda mais sobre como lidar com as expectativas familiares sem repetir traumas, não deixe de assistir ao episódio completo do videocast Sinto Que Lá Vem História — “Filhos ou espelhos? O impacto das nossas expectativas nas crianças”. Uma conversa rica, acolhedora e cheia de insights para pais e educadores.
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Este episódio é uma oportunidade de refletir, aprender e fortalecer vínculos, transformando as expectativas das famílias nas crianças e adolescentes.
O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.