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Podcast do LIV: Pediatra Daniel Becker debate riscos do uso excessivo de telas

Talvez você já tenha passado pela experiência de falar com uma criança e, diante da falta de resposta, notar que ela está hipnotizada pelo celular ou alguma outra tela. Os aparelhos eletrônicos  são objetos constantes no cotidiano das novas gerações, que podem passar horas nas redes sociais ou jogando. 

Dependendo do uso, computadores, tablets e celulares podem ser ferramentas que ajudam no desenvolvimento e no aprendizado das crianças. Porém, as telas não devem ser usadas de forma exagerada. 

Essa é a avaliação do pediatra Daniel Becker, convidado do podcast do LIV “Sinto que Lá Vem História”, que leva para famílias, educadores e gestores conversas sobre educação, cuidados e relacionamentos como forma de aprimorar as nossas relações.

No episódio, Becker fala sobre o uso de telas, sobre o mundo digital na infância e na adolescência, e aponta alguns cuidados que todos devemos ter.

Não se engane, as telas viciam de verdade

O especialista ressaltou que o uso excessivo de aparelhos eletrônicos já é reconhecido mundialmente como um vício. De acordo com a pesquisa Comscore Tendências de Social Media, de 2023, o Brasil é o terceiro país que mais consome redes sociais no mundo. E os jovens, de acordo com dados da FGV, de 2019, passam em média 14 horas por dia nos aplicativos. 

“Se isso está acontecendo com os adultos, com mais de 65% hoje se declarando viciados em celular, imagina então com as crianças, que não têm mecanismos de controle e não têm capacidades de combater a adição”, diz Daniel. 

Ao traçar um panorama histórico do uso de ferramentas digitais, Becker fez um alerta: o uso desmedido de telas pode causar danos irreversíveis para o desenvolvimento de capacidades físicas e emocionais. 

“Até o advento da internet e das telas clicáveis, a gente sabia brincar, ler, assistir filmes, passear na rua, a gente sabia conversar longamente. A gente parece estar, gradualmente, perdendo essas habilidades. Eu comparo com a urgência climática. Se a gente não mudar o caminho, estamos indo para um desastre ecológico, e para uma mudança cerebral que não tem precedentes”, afirma. 

Os perigos de um mundo irreal

No episódio, o pediatra cita um estudo publicado pela revista Nature, que identificou que o uso de redes sociais de 2 a 7 horas diárias, causou uma queda brutal de satisfação com a vida entre as meninas, levando a quadros graves de depressão. 

Transtornos de imagem corporal e o afastamento de relações afetivas com familiares e amigos são algumas das consequências apontadas pelo pediatra do uso desregulado das redes sociais. Isso sem falar dos perigos de golpes, vazamento de dados e riscos à privacidade.  

“O aumento de suicídio de crianças no mundo inteiro chama a atenção, é uma crise internacional de adoecimento mental e emocional, e as telas são parte fundamental disso. Elas levam a uma espécie de hipnose e passividade. As crianças perdem a capacidade de criar, de imaginar, fantasiar. Na tela, há o consumo passivo de conteúdo alheio, ela fica sem atividade cerebral positiva”, afirma. 

De acordo com o médico, outro cuidado a ser observado é assegurar que crianças e adolescentes consigam ter horas de sono reparadoras.

“Outra prioridade é o sono, que está ficando perturbado pelo mundo digital. Podemos desligar o celular, pelo menos, meia hora antes de dormir e realizar atividades não digitais, uma conversa para relaxar e leitura de histórias, que é um momento afetivo muito bonito”, completa.

Diálogo e equilíbrio como solução

O primeiro passo para famílias e educadores lidarem com a situação é conhecer os riscos. Uma vez compreendidos, é preciso colocar a mão na massa e buscar soluções.  Becker destaca que não é uma guerra, a internet faz parte da vida contemporânea, mas é preciso ter bom senso e propor alternativas para um convívio digital saudável. 

“Quais são os mecanismos humanos que podemos utilizar? Eu sempre recomendo que, em qualquer idade, a gente estabeleça um contrato de uso digital, com validade para todos, regras até para adultos. A criança que recebe regra imposta dificilmente vai aderir, então é preciso trazê-la para a conversa e mostrar que sua voz é respeitada e acolhida”, sugere o especialista.  

Além de estabelecer um vínculo de proximidade com as crianças, a conversa pode incentivar hábitos que vão ajudá-las a desenvolver uma relação mais tranquila com as redes sociais e até mesmo descobrir novos hobbies, como a prática de atividades esportivas. Além disso, é importante alertá-las sobre os perigos das redes.

“É importante desenvolver e estimular um pensamento crítico com as crianças. Se ela receber um conteúdo falso, podemos mostrar para ela porque aquilo é falso. Essa capacidade que temos para ajudar as crianças a terem um olhar crítico sobre o que elas consomem é fundamental”, afirma.

Lidando com um ambiente tóxico

Seja em jogos on-line, seja nos comentários nas redes sociais, os produtos virtuais podem trazer mensagens violentas. É preciso muito cuidado com as relações que são criadas no ambiente virtual, destaca Becker.

Ele sugere que os responsáveis e educadores conversem com as crianças e com os adolescentes sobre o comportamento agressivo nos aplicativos.

“Você acha que uma pessoa se sente bem com o xingamento? Se coloque no lugar do outro. É chegar com uma abordagem reflexiva, não a proibição”, aconselha.

 


Veja como o LIV pode te ajudar

O Manual LIV de Convivência  é um aliado para ajudar as crianças e adolescentes a entender a importância de se respeitar o outro. O material é dividido em três capítulos e foi elaborado para pacificar os ambientes e as relações sociais, inclusive as virtuais. 

No primeiro módulo, por exemplo, a terapeuta Monica Lobo ensina como lidar e conviver com o diferente. Na imensidão das redes sociais, é possível ter contato com as mais diversas pessoas e os mais diversos pensamentos, então reflexões sobre respeito e mediação de conflitos se tornam importantes.


Qual é o papel dos responsáveis?

De acordo com Becker,  a vida digital tornou a parentalidade mais complexa nos dias de hoje e as famílias precisam contar com o envolvimento e participação de todos os agentes da vida social. 

“As famílias têm o que fazer, mas não podem agir sozinhas. A gente tem que envolver as escolas nessa discussão de educação. Elas têm um papel essencial, e a sociedade como um todo, com políticas públicas e mecanismos de controle dessas empresas, também”, defende. 

Você pode conferir o episódio completo com o pediatra no player abaixo e em outras plataformas digitais de áudio. Os episódios vão ao ar às terças-feiras, a cada 15 dias. 


Gostou do conteúdo e quer conhecer mais sobre o LIV e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais? Confira mais nas redes sociais e fique ligado nos episódios do nosso podcast Sinto que Lá Vem História.

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O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.