
29/05/2024
Benedita Casé e Pedro Henrique França falam sobre inclusão no videocast do LIV
Rampas, portas mais largas, livros em braile, assistentes de fala… A acessibilidade é fundamental para pessoas com deficiência, mas não basta oferecer espaços físicos adequados e tecnologias de assistência para dizer que um local é inclusivo. É preciso ir muito além e construir uma sociedade que respeite, de fato, a diversidade e consiga sempre enxergar a diferença como ela verdadeiramente é, apenas uma diferença, nem melhor ou pior do que tantas outras características que todos temos.
Os desafios para a inclusão ainda são tão grandes quanto variados e, para falar sobre o tema, o ‘Sinto que Lá Vem História’, videocast do LIV, convidou Benedita Casé e Pedro Henrique França, criadores do PCDPod, o primeiro videocast de pessoas com deficiência no Brasil. No bate-papo com Renata Ishida, gerente pedagógica do LIV, e Joana London, diretora pedagógica, eles falaram sobre suas experiências, capacitismo e também sobre o papel da escola e da família na formação de um mundo inclusivo.
Por que é importante falar sobre deficiência?
No encontro, eles contaram como surgiu a ideia de fazer o PCDPod, um canal que Pedro e Benedita consideram importante para incentivar o debate, quebrar preconceitos, difundir conhecimento e compartilhar histórias. Falar abertamente sobre deficiência foi uma forma que eles encontraram de combater também a sensação de invisibilidade e não-pertencimento, que ambos sentiram na pele quando mais jovens.
Diagnosticada aos três anos com surdez profunda num ouvido e severa no outro, Benedita revelou que ela própria demorou para assumir sua deficiência auditiva. Como consegue se expressar pela fala e usa cabelos longos, que escondem seu aparelho, muitas vezes sua deficiência não era percebida pelas pessoas ao redor, o que lhe permitia circular entre diferentes grupos.
“Por que eu estou falando isso? Porque em muitos momentos da minha vida, eu driblava a deficiência, usava um pouco dessa passabilidade. E eu ia ocupando aquele espaço. Eu ia meio que me camuflando nos grupos para pertencer, para ter amigo, para facilitar. Só que tem uma hora que não tem para onde correr. Houve muitos momentos muito difíceis que eu ia passando por cima”, contou Benedita.
Pedro, que tem nanismo, passou por um processo similar. Ele tentava esquecer sua deficiência nas relações na escola, no condomínio e na família, mas a invisibilidade e o não reconhecimento fortaleceram sua sensação de não pertencimento aos grupos. Assim como sua parceira de podcast, ele também só encontrou o seu caminho por volta dos 30 anos, após enfrentar uma infância e uma juventude permeadas por preconceito, muitas vezes velado.
“Recentemente fui participar de um simpósio de uma associação de pessoas com nanismo e tinha muitas crianças, muitas famílias. Se eu tivesse tido isso com oito anos de idade, eu não me sentiria um E.T, no sentido de ser o único num espaço. Não tenham medo, reivindiquem, sim, os direitos dos seus filhos”, defendeu.
Como as escolas podem ser mais inclusivas?
Essa reivindicação, explicou Pedro, deve se estender para escola, um local que deve promover o encontro e o respeito, além de fomentar a diversidade. O silêncio e os tabus são cúmplices dos preconceitos, disse, defendendo que conversas abertas e claras são a melhor forma de se falar de deficiência.
“Eu acho que a escola está muito despreparada. As crianças entendem muito bem tudo. Se você falar por cinco minutos sobre deficiência, racismo, misoginia, questões indígenas, elas vão entender. Não é difícil, difícil é tirar o preconceito para falar sobre esses temas. Isso precisa ser uma questão permanente nas escolas, que têm uma obrigação social de apresentar as diferenças e todos os tipos de preconceito”, afirmou.
Para Pedro, é preciso repensar os papéis e atividades tradicionais das escolas e trazer à tona a responsabilidade social delas.
“A escola é um lugar muito importante para a formação de indivíduos, então negligenciar esse caminho de convivência com as diferenças, de entendimento de desigualdade social, de questões climáticas, nada mais é que um instrumento para manter as coisas como são”, disse.
Diálogo com a família é fundamental
Pedro e Benedita também falaram sobre o papel da família e a importância de assegurar a diversidade na vida dos filhos. Para Benedita, a escola desempenha o papel de abrir os olhos dos estudantes para o mundo. Por isso, ela se disse preocupada quando os responsáveis cobram dos filhos apenas um bom desempenho acadêmico, dando às notas e avaliações uma importância maior do que ao desenvolvimento socioemocional das crianças.
“É preciso olhar, ter empatia. Quando você olha, você percebe melhor as pessoas, cada um com as suas características. A deficiência não é uma definição, são pessoas, a gente é muita coisa antes da deficiência. Quando nossos filhos começam a ter a mesma percepção, as relações mudam”, explica Benedita, lembrando que, quando um amigo com deficiência é excluído da festa junina, por exemplo, esse problema tem que passar a ser de toda a turma.
Benedita também diz que sempre conversou abertamente em casa sobre todos os assuntos e que já vê reflexos desse comportamento no dia a dia. Em certa ocasião, contou que começou a arrumar os brinquedos do filho e separou bonecos que tinham perdido as pernas ou cabeça para jogar fora. Ela disse que não serviam mais, que estavam quebrados, e foi logo corrigida pelo filho. Só então percebeu que ela mesma estava sendo preconceituosa. E que seu filho, não.
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O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.