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Um pai e uma mãe tenta conversar com a filha sobre um conflito com o irmão.

Saiba o que fazer no caso de briga entre irmãos

É comum que a relação entre irmãos seja marcada por muito amor, mas também por conflitos e disputas. Se você já presenciou uma briga entre irmãos, sabe como pode ser desafiador lidar com a situação. No entanto, os conflitos não são necessariamente algo ruim: eles são parte natural do crescimento e podem trazer aprendizados importantes, tanto para as crianças quanto para os adultos que as acompanham.

No episódio #32 do videocast do LIV, E quando eles brigam? Um novo olhar para os conflitos infantis, a autora e especialista em parentalidade Lua Barros traz uma reflexão profunda sobre o tema, olhando para esses momentos não como problemas a serem eliminados, mas como oportunidades de diálogo e conexão.

Que tal seguir com a gente nessa conversa? Pode ser o início de um novo jeito de olhar para a relação entre irmãos.

Conflito não é sinônimo de problema

Pode ser que, quando vemos nossos filhos brigando, a primeira reação é querer acabar com aquilo rapidamente, acreditando que o conflito é algo negativo. No entanto, Lua lembra que nem todo conflito precisa ser visto como algo ruim.

Eu nunca fui essa pessoa que evitei conflito. Eu ia para a briga, mas a briga não era para eu ganhar ou estar certa, era para que todo mundo ficasse bem.”

Essa fala traz uma perspectiva importante: os conflitos fazem parte da vida em sociedade. No caso das crianças, eles podem ensinar a expressar sentimentos, negociar limites e lidar com frustrações.

O papel dos adultos, portanto, não é evitar que os conflitos aconteçam, mas criar um espaço seguro para que eles sejam vividos e elaborados.

Quando a briga entre irmãos começa

A chegada de um irmão é, por si só, uma grande transformação. O irmão mais velho, muitas vezes, precisa lidar com sentimentos de perda. Lua Barros lembra que, por mais que os pais tentem romantizar esse momento, é natural existir uma sensação de divisão.

Para quem está recebendo o irmão, a chegada representa uma divisão. O tempo, a atenção, o espaço… tudo se divide. É difícil e precisamos dar espaço para que essas emoções existam.

Quando os adultos negam esses sentimentos, dizendo frases como “não pode ter ciúmes” ou “você tem que amar seu irmão”, a criança pode se sentir culpada por algo que, na verdade, é natural. Por isso, é fundamental permitir que expresse o que está sentindo, mesmo que sejam emoções consideradas difíceis, como raiva ou tristeza.

O papel da palavra na resolução de conflitos

Uma das ferramentas mais poderosas para lidar com a briga entre irmãos é a palavra. Falar sobre o que está acontecendo ajuda as crianças a entenderem suas emoções e a desenvolverem recursos para lidar com elas. 

Lua compartilha uma experiência emocionante com seu filho mais velho, que expressou de forma direta o que estava sentindo:

Eu lembro do meu filho me olhando e dizendo: ‘Eu odeio que você teve outro filho. Eu odeio a minha irmã. Eu queria a minha vida de antes’. Foi muito difícil ouvir aquilo, mas naquele momento eu pude acolher e dizer: ‘Eu sei, meu amor. Me desculpa. Nós vamos sair juntos dessa confusão’.

Essa cena mostra como, ao dar voz aos sentimentos, criamos oportunidades de conexão. A criança não precisa ser corrigida ou silenciada, mas sim ouvida. Isso não significa que os adultos devem abrir mão de limites, mas que esses limites podem ser estabelecidos de forma respeitosa e empática.

Confronto ou conflito?

É importante diferenciar confronto de conflito. O confronto acontece quando o objetivo é vencer, provar quem está certo ou impor autoridade. Já o conflito é uma oportunidade de crescimento, em que diferentes pontos de vista se encontram e podem gerar aprendizado.

Quando tratamos a briga somente como algo a ser eliminado, perdemos a chance de ensinar às crianças habilidades essenciais, como empatia, escuta e cooperação. Por isso, vale a pena trocar a pressa de acabar com a discussão por uma postura de curiosidade: o que essa briga está tentando dizer? Quais necessidades estão escondidas ali?

Como criar um espaço de escuta em casa?

Ter um ambiente seguro em casa é essencial para que as crianças se sintam à vontade para falar sobre seus sentimentos. Isso exige prática e, muitas vezes, autoconhecimento por parte dos adultos. Lua compartilha que, em sua própria trajetória como mãe, precisou aprender a ouvir antes de reagir:

Eu precisei me humanizar. Eu tinha medo de deixar as crianças regularem, porque eu acreditava que ser uma boa mãe era controlar tudo. Quando percebi que isso era exaustivo, entendi que precisava estar disponível para a conversa, não como quem detém todo o conhecimento, mas como alguém que também está aprendendo.”

Podemos criar esse espaço apontado pela Lua por meio de algumas práticas, como:

  • Reservar momentos de conversa em família, sem distrações;
  • Validar os sentimentos das crianças, mesmo quando não concordamos com eles;
  • Mostrar que os adultos também erram e estão dispostos a corrigir suas atitudes;
  • Envolver todos na busca por soluções, em vez de impor respostas prontas.

Esse processo pode ser apoiado por programas como programa socioemocional, que ajudam a desenvolver competências como empatia, autoconhecimento e comunicação.

Educação socioemocional: uma aliada no dia a dia

A educação socioemocional tem um papel fundamental na prevenção e na mediação de conflitos. Quando as crianças aprendem a identificar e expressar suas emoções, ficam mais preparadas para lidar com frustrações e diferenças.

No LIV, trabalhamos com atividades que incentivam o diálogo, a cooperação e o respeito. Essas experiências não buscam evitar que as brigas aconteçam, mas sim oferecer ferramentas para que, quando elas surgirem, sejam vividas de forma construtiva.

“Não se trata de criar crianças obedientes a qualquer custo, mas de construir relações mais humanas, onde todos possam se expressar e crescer juntos”, reforça Lua.

Quando intervir na briga entre irmãos?

Embora seja importante permitir que as crianças tentem resolver seus conflitos, existem momentos em que a intervenção do adulto é necessária. Isso acontece quando há risco de agressão física, quando uma das crianças está em desvantagem clara ou quando o conflito se torna recorrente e desgastante.

Nesses casos, o ideal é intervir com calma, separando as crianças e dando a cada uma a chance de falar sobre o que aconteceu. Evite buscar culpados ou punir, pois isso tende a aumentar o ressentimento. O objetivo é que todos compreendam o que sentiram e, juntos, encontrem formas de reparar os danos e reconstruir a confiança.

O que essas reflexões nos ensinaram?

Como vimos, ao longo da conversa, Lua Barros nos convida a olhar para a convivência entre irmãos com mais empatia. Crescer junto é aprender a dividir, negociar e, acima de tudo, reconhecer o outro como alguém inteiro (com sentimentos, desejos e limites próprios). 

Acolher os sentimentos das crianças diante da chegada de um novo irmão é ensinar que emoções complexas fazem parte da vida e que elas podem ser expressas de forma saudável. 

Esse cuidado ajuda a fortalecer vínculos, cria espaço para o diálogo e prepara todos para lidar com as diferenças sem medo ou culpa. Quando os adultos conseguem enxergar esses conflitos com acolhimento, transformam a rivalidade em um caminho de amadurecimento e vínculo.

Gostou da temática e da conversa com Lua Barros? O que acha de continuarmos a refletir sobre esse assunto? Assista o episódio completo do videocast LIV  E quando eles brigam? Um novo olhar para os conflitos infantis”.


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O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.