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Um professor leciona aula para um grupo de alunos.

Mês do educador: um olhar sobre a saúde mental de quem ensina

Outubro chegou, e com ele, o mês do educador — um período que vai além das homenagens. É tempo de olhar com atenção para quem dedica a vida a ensinar, inspirar e transformar. Mas, diante de tantas entregas, a pergunta que fica é : quem cuida de quem cuida?

Mais do que reconhecer o trabalho desses profissionais, este é um convite à reflexão. O dia do professor nos lembra da importância de cuidar de quem ensina, acolher suas emoções e valorizar suas histórias. Afinal, por trás de cada aula, há alguém que sente e também precisa ser escutado.

Neste mês, abrimos espaço para refletir sobre saúde emocional, autocuidado e valorização profissional, reconhecendo a importância de olhar com mais atenção para quem dedica tanto de si ao ato de educar.

Nos próximos tópicos, vamos refletir juntos sobre os desafios de quem ensina e os caminhos possíveis para construir uma rotina mais saudável e humana dentro e fora da escola.

A saúde emocional de quem cuida

O dia do professor marca a importância de celebrar essa profissão, mas também de propor reflexões sobre a saúde mental, a rotina intensa, o papel do professor como agente de transformação e inspiração.  

Alexandre Coimbra, psicólogo, escritor e especialista em saúde mental docente, alerta que: 

O professor tem uma profissão de entrega, está o tempo inteiro preparando algo para os outros. Mas nós, humanos, não temos uma disposição energética inesgotável para nos doar o tempo inteiro. Assim como a respiração precisa do movimento complementar de inspirar e expirar, também precisamos equilibrar os momentos de dar e receber.”

No dia a dia, muitos professores se sentem exaustos e solitários diante de turmas grandes e exigências múltiplas, mas reconhecer essa sobrecarga é o primeiro passo para criar estratégias de cuidado consigo mesmo.

Esse reconhecimento não diminui a autoridade do educador. Pelo contrário, reforça a humanização do processo de ensino. É nesse equilíbrio que se constrói um ambiente seguro para professores e  alunos conversarem sobre seus sentimentos e desafios.

Práticas para uma rotina mais saudável

Cuidar da saúde mental do professor é tão importante quanto planejar uma aula. Pequenos ajustes, como momentos de pausa entre atividades, planejamento compartilhado com a equipe pedagógica e espaços para diálogo sobre desafios diários, podem fazer diferença.

Coimbra pontua:

“[O professor] precisa ser muito cuidado, muito acolhido, porque ele sabe que é cobrado no lugar de ser um formador de toda uma geração, de que está nos olhos dele, nos cuidados dele.”

Algo que pode ajudar a tornar a rotina do professor mais saudável é conectar-se com colegas, buscar formação continuada e participar de iniciativas de educação socioemocional são práticas que fortalecem o educador e contribuem para um clima escolar mais saudável.

Essas estratégias ajudam não só na gestão emocional do docente, mas também no desenvolvimento socioemocional dos alunos, criando um ciclo de cuidado e aprendizagem compartilhada. 

Práticas simples, como a organização de reuniões semanais para troca de experiências ou exercícios de respiração em grupo, podem reduzir significativamente o estresse.

A reflexão sobre a própria prática também é essencial. Registrar o que funciona e o que pode ser ajustado, conversar sobre os desafios e celebrar pequenas conquistas do dia a dia contribui para a resiliência do professor e melhora a qualidade da relação com os estudantes.

Como construir conversas mais verdadeiras e leves?

No episódio do Videocast Cuidar de Quem Cuida, a escritora e psicanalista Elisama Santos convida a refletir sobre algo essencial: o que tem guiado nossas conversas. 

Com sensibilidade e profundidade, ela fala sobre limites, escuta e coragem emocional, mostrando que relações saudáveis não evitam conflitos, mas aprendem a atravessá-los com empatia e clareza. Elisama propõe que cada um reconheça seus próprios sentimentos e necessidades antes de dialogar. Afinal, só conseguimos cuidar do outro quando também cuidamos de nós. 

Um episódio inspirador sobre autocuidado, comunicação consciente e consciência emocional que pode ser aplicado nas relações vivenciadas pelos educadores.

Assista agora ao episódio completo 

O que o professor pode fazer por si?

Os números mostram que 34,6% dos profissionais da educação afirmam já ter pensado em se afastar do trabalho por motivos de saúde mental; sete a cada dez relatam não ter recebido qualquer tipo de apoio nessa área; e um em cada três professores da educação básica sofre com a síndrome de Burnout.

Mês do educador: um olhar sobre a saúde mental de quem ensina -LIV Inteligência de Vida

Sim, é fundamental que o autocuidado seja prioridade. O professor precisa ficar atento a sinais de esgotamento, como cansaço físico e mental, dores de cabeça, insônia, dificuldade de concentração, negatividade constante e sensação de derrota. 

O ideal é agir antes que o quadro se agrave. Algumas atitudes simples podem ajudar a preservar o equilíbrio emocional e a qualidade de vida:

  • Impor limites: combine se pode ser acionado fora do horário de trabalho e, se sim, em quais momentos.
  • Cuidar da saúde: não pule refeições nem deixe de se hidratar. Lembre-se de que cuidar de si é tão importante quanto cuidar dos alunos.
  • Reservar tempo para o lazer: assista a uma série, caminhe no parque ou apenas relaxe. Permita-se aproveitar momentos simples e prazerosos.

Essas pequenas ações ajudam a preservar o equilíbrio emocional e reforçam a ideia de que o professor também precisa se cuidar para continuar cuidando dos outros. Alexandre Coimbra aconselha:

“A palavra mais importante de aprender a dizer na vida passa a ser ‘não’. ‘Não posso’, ‘não consigo’, ‘não quero’. Isso não nos torna egoístas — nos ajuda a estabelecer limites saudáveis para nossa doação.”

Como a valorização profissional fortalece a saúde mental e o ambiente escolar?

A valorização do professor é um dos caminhos mais eficazes para promover a saúde mental dos educadores e melhorar o clima escolar. Quando o profissional se sente respeitado, ouvido e reconhecido, isso reflete nas relações com colegas, gestores e estudantes.

A valorização envolve pequenas iniciativas podem gerar grandes resultados:

  • Reconhecimento diário: elogios sinceros e valorização pública fortalecem a autoestima e reduzem o sentimento de invisibilidade.
  • Participação nas decisões: incluir o professor no planejamento e nas soluções da escola aumenta o engajamento.
  • Investimento em bem-estar: oferecer momentos de pausa e cuidado emocional cria um ciclo de equilíbrio e aprendizado.
  • Apoio em momentos críticos: acolher quem enfrenta o esgotamento, flexibilizar prazos e oferecer ajuda real faz toda a diferença.
  • Programa socioemocional — construção de um espaço de fala e escuta na escola.

Quando há valorização genuína, o professor sente que pode ser quem é: com suas forças, vulnerabilidades e conquistas, além de encontrar na escola um espaço de confiança e pertencimento.

Convite à reflexão

Neste mês do educador, o convite é para olhar com carinho e atenção para o papel de quem forma gerações. Educar é um ato de coragem e sensibilidade — e requer, antes de tudo, um olhar humano para o próprio educador.

Reconhecer sentimentos, aceitar vulnerabilidades e abrir espaço para o diálogo são gestos que fortalecem toda a comunidade escolar. Cuidar de quem ensina é cuidar do futuro.

E para seguir refletindo no mês do educador, vale conhecer o episódio completo do Sinto Que Lá Vem HistóriaO educar como coletivo: ensinar dentro e fora da escola, com Jeferson Tenório, uma conversa inspiradora sobre as histórias que moldam quem ensina e quem aprende.




O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.