31/10/2025
Mês do educador: um olhar sobre a saúde mental de quem ensina
Outubro chegou, e com ele, o mês do educador — um período que vai além das homenagens. É tempo de olhar com atenção para quem dedica a vida a ensinar, inspirar e transformar. Mas, diante de tantas entregas, a pergunta que fica é : quem cuida de quem cuida?
Mais do que reconhecer o trabalho desses profissionais, este é um convite à reflexão. O dia do professor nos lembra da importância de cuidar de quem ensina, acolher suas emoções e valorizar suas histórias. Afinal, por trás de cada aula, há alguém que sente e também precisa ser escutado.
Neste mês, abrimos espaço para refletir sobre saúde emocional, autocuidado e valorização profissional, reconhecendo a importância de olhar com mais atenção para quem dedica tanto de si ao ato de educar.
Nos próximos tópicos, vamos refletir juntos sobre os desafios de quem ensina e os caminhos possíveis para construir uma rotina mais saudável e humana dentro e fora da escola.
A saúde emocional de quem cuida
O dia do professor marca a importância de celebrar essa profissão, mas também de propor reflexões sobre a saúde mental, a rotina intensa, o papel do professor como agente de transformação e inspiração.
Alexandre Coimbra, psicólogo, escritor e especialista em saúde mental docente, alerta que:
“O professor tem uma profissão de entrega, está o tempo inteiro preparando algo para os outros. Mas nós, humanos, não temos uma disposição energética inesgotável para nos doar o tempo inteiro. Assim como a respiração precisa do movimento complementar de inspirar e expirar, também precisamos equilibrar os momentos de dar e receber.”
No dia a dia, muitos professores se sentem exaustos e solitários diante de turmas grandes e exigências múltiplas, mas reconhecer essa sobrecarga é o primeiro passo para criar estratégias de cuidado consigo mesmo.
Esse reconhecimento não diminui a autoridade do educador. Pelo contrário, reforça a humanização do processo de ensino. É nesse equilíbrio que se constrói um ambiente seguro para professores e alunos conversarem sobre seus sentimentos e desafios.
Práticas para uma rotina mais saudável
Cuidar da saúde mental do professor é tão importante quanto planejar uma aula. Pequenos ajustes, como momentos de pausa entre atividades, planejamento compartilhado com a equipe pedagógica e espaços para diálogo sobre desafios diários, podem fazer diferença.
Coimbra pontua:
“[O professor] precisa ser muito cuidado, muito acolhido, porque ele sabe que é cobrado no lugar de ser um formador de toda uma geração, de que está nos olhos dele, nos cuidados dele.”
Algo que pode ajudar a tornar a rotina do professor mais saudável é conectar-se com colegas, buscar formação continuada e participar de iniciativas de educação socioemocional são práticas que fortalecem o educador e contribuem para um clima escolar mais saudável.
Essas estratégias ajudam não só na gestão emocional do docente, mas também no desenvolvimento socioemocional dos alunos, criando um ciclo de cuidado e aprendizagem compartilhada.
Práticas simples, como a organização de reuniões semanais para troca de experiências ou exercícios de respiração em grupo, podem reduzir significativamente o estresse.
A reflexão sobre a própria prática também é essencial. Registrar o que funciona e o que pode ser ajustado, conversar sobre os desafios e celebrar pequenas conquistas do dia a dia contribui para a resiliência do professor e melhora a qualidade da relação com os estudantes.
Como construir conversas mais verdadeiras e leves?
No episódio do Videocast Cuidar de Quem Cuida, a escritora e psicanalista Elisama Santos convida a refletir sobre algo essencial: o que tem guiado nossas conversas.
Com sensibilidade e profundidade, ela fala sobre limites, escuta e coragem emocional, mostrando que relações saudáveis não evitam conflitos, mas aprendem a atravessá-los com empatia e clareza. Elisama propõe que cada um reconheça seus próprios sentimentos e necessidades antes de dialogar. Afinal, só conseguimos cuidar do outro quando também cuidamos de nós.
Um episódio inspirador sobre autocuidado, comunicação consciente e consciência emocional que pode ser aplicado nas relações vivenciadas pelos educadores.
Assista agora ao episódio completo
O que o professor pode fazer por si?
Os números mostram que 34,6% dos profissionais da educação afirmam já ter pensado em se afastar do trabalho por motivos de saúde mental; sete a cada dez relatam não ter recebido qualquer tipo de apoio nessa área; e um em cada três professores da educação básica sofre com a síndrome de Burnout.
Sim, é fundamental que o autocuidado seja prioridade. O professor precisa ficar atento a sinais de esgotamento, como cansaço físico e mental, dores de cabeça, insônia, dificuldade de concentração, negatividade constante e sensação de derrota.
O ideal é agir antes que o quadro se agrave. Algumas atitudes simples podem ajudar a preservar o equilíbrio emocional e a qualidade de vida:
- Impor limites: combine se pode ser acionado fora do horário de trabalho e, se sim, em quais momentos.
- Cuidar da saúde: não pule refeições nem deixe de se hidratar. Lembre-se de que cuidar de si é tão importante quanto cuidar dos alunos.
- Reservar tempo para o lazer: assista a uma série, caminhe no parque ou apenas relaxe. Permita-se aproveitar momentos simples e prazerosos.
Essas pequenas ações ajudam a preservar o equilíbrio emocional e reforçam a ideia de que o professor também precisa se cuidar para continuar cuidando dos outros. Alexandre Coimbra aconselha:
“A palavra mais importante de aprender a dizer na vida passa a ser ‘não’. ‘Não posso’, ‘não consigo’, ‘não quero’. Isso não nos torna egoístas — nos ajuda a estabelecer limites saudáveis para nossa doação.”
Como a valorização profissional fortalece a saúde mental e o ambiente escolar?
A valorização do professor é um dos caminhos mais eficazes para promover a saúde mental dos educadores e melhorar o clima escolar. Quando o profissional se sente respeitado, ouvido e reconhecido, isso reflete nas relações com colegas, gestores e estudantes.
A valorização envolve pequenas iniciativas podem gerar grandes resultados:
- Reconhecimento diário: elogios sinceros e valorização pública fortalecem a autoestima e reduzem o sentimento de invisibilidade.
- Participação nas decisões: incluir o professor no planejamento e nas soluções da escola aumenta o engajamento.
- Investimento em bem-estar: oferecer momentos de pausa e cuidado emocional cria um ciclo de equilíbrio e aprendizado.
- Apoio em momentos críticos: acolher quem enfrenta o esgotamento, flexibilizar prazos e oferecer ajuda real faz toda a diferença.
- Programa socioemocional — construção de um espaço de fala e escuta na escola.
Quando há valorização genuína, o professor sente que pode ser quem é: com suas forças, vulnerabilidades e conquistas, além de encontrar na escola um espaço de confiança e pertencimento.
Convite à reflexão
Neste mês do educador, o convite é para olhar com carinho e atenção para o papel de quem forma gerações. Educar é um ato de coragem e sensibilidade — e requer, antes de tudo, um olhar humano para o próprio educador.
Reconhecer sentimentos, aceitar vulnerabilidades e abrir espaço para o diálogo são gestos que fortalecem toda a comunidade escolar. Cuidar de quem ensina é cuidar do futuro.
E para seguir refletindo no mês do educador, vale conhecer o episódio completo do Sinto Que Lá Vem História — O educar como coletivo: ensinar dentro e fora da escola, com Jeferson Tenório, uma conversa inspiradora sobre as histórias que moldam quem ensina e quem aprende.
O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.
