Para além da diversão, as narrativas e os personagens criados para o público infantil podem promover diversidade e espaço de fala. Saiba mais!
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Que criança não tem um personagem favorito? Mas para além da diversão que eles oferecem em livros, desenhos animados e brincadeiras, você sabia que eles têm um papel muito grande na vida das crianças e podem ser usados como ferramentas pedagógicas para desenvolvimento socioemocional em todas as fases da infância?
No dia 22 de novembro, um encontro on-line buscou entender exatamente essa questão, analisando como as figuras de animações e livros infantis geram identificação e ajudam as crianças a lidar com os seus sentimentos e se relacionar melhor.
O bate-papo aconteceu no Instagram e foi mediado pela editora assistente da Revista Crescer, Juliana Malacarne, e contou com a participação da psicóloga, pedagoga e gerente pedagógica do programa LIV, Joana London, da gerente de marketing e plataformas digitais da unidade infantil da Globo, Luciane Neno, e do advogado e influenciador Adriano Bisker, conhecido pelo canal @paidecinco.
O encontro permitiu debater o papel dos personagens na vida das crianças a partir do ponto de vista da educação, das famílias e dos criadores de conteúdo, ampliando a visão sobre sua importância:
“O canal Gloob e LIV têm muito em comum nesse ponto: essa questão de sermos apaixonados pelo universo infantil, pelas crianças, acreditando no livre brincar, na infância livre e na capacidade delas de realizar o que quiserem realizar e serem o que quiserem ser. Nós estamos no papel de dar esse suporte para elas, oferecendo ferramentas para que elas vivam com todo esse potencial”, apontou Luciane.
Segundo Joana London, o potencial dos personagens para o desenvolvimento socioemocional na infância é tão relevante que precisa ser considerado desde o momento de sua criação. “É preciso pensar na complexidade deles. Às vezes, quando pensamos em infância, buscamos simplificar as ações e os sentimentos, mas precisamos entender que a criança tem capacidade de compreender complexidades”.
Outro aspecto destacado pela gerente pedagógica do programa LIV é pensar em personagens que falem a linguagem das crianças, aproximando-se do que elas gostam de consumir em cada faixa etária. “Não podemos pensar nos personagens apenas como um elemento unicamente pedagógico, mas também oferecer o entretenimento para a criança se engajar”.
Para Luciane Neno, outro destaque desse processo de criação é a proximidade do personagem com a realidade. “Ele deve apresentar suas fragilidades e suas potencialidades. Os personagens precisam, assim como nós, demonstrar medos, inseguranças, manias etc., porque a criança se percebe nessa relação e se identifica com o personagem e com os ambientes que ele frequenta”.
Do ponto de vista das famílias, Adriano Bisker, destacou que essa identificação é essencial, inclusive nos diálogos cotidianos. “Em muitas situações que quero conversar com minhas filhas sobre comportamento, é recorrente eu pegar os personagens favoritos em situações parecidas para iniciar a conversa. A criança percebe que abriu uma oportunidade para ela falar daquele sentimento e, ao mesmo tempo que ela coloca o personagem implícito, ela está colocando para fora o que ela mesmo sente”.
A inclusão das diversidades nas narrativas infantis também foi um tema abordado durante o bate-papo. Segundo Luciane, esse aspecto é importante para mostrar às crianças que todas podem ser representadas nas histórias.
“Quando a gente fala em diversidade, falamos em dois aspectos: os aspectos psicológicos, de as crianças entenderem que existem outras crianças diferentes delas, com emoções e necessidades diferentes […]. Mas também aspectos físicos, com representatividade, para que elas possam se identificar nesses momentos e ajudar a enfrentar suas questões”, destacou.
Joana complementou esse ponto afirmando que a diversidade precisa partir também de quem cria conteúdo para o público infantil. “Há uma necessidade de trazer a diversidade para essas narrativas, seja no audiovisual ou na literatura, pois há uma importância de a gente se deparar com essas imagens mais do que nós, adultos, fomos habituados em nossa trajetória. […] É preciso atentar para não reforçar estereótipos.”
Luciane defendeu também a multiplicidade destacando que é através das narrativas que as crianças constroem seu repertório inicial de vida e que repensar os conteúdos que elas acessam faz parte desse processo. “Uma pesquisa com crianças da geração Alpha, por exemplo, mostrou que a identificação das crianças com os personagens não está necessariamente atrelada a aspectos físicos, mas sim a atitudes e comportamentos”.
Joana explica que essa diversidade permite que os personagens se tornem uma referência para as crianças falarem sobre situações que elas vivenciaram e sobre o que sentem. “Eles são uma referência lúdica para criar engajamento e identificação, criando também oportunidades de diálogos para elas se expressarem”.
Como todo pai, mãe e cuidador bem sabe, os personagens infantis muitas vezes extrapolam o mundo das telas e perpassam por diferentes momentos de brincadeira e imaginação dos pequenos. Nesse sentido, tanto Joana quanto Luciane e Adriano destacaram o papel da família em selecionar conteúdos adequados para cada faixa etária, não apenas em livros ou desenhos, mas também em jogos e plataformas nas quais a criança está inserida.
“Como os pais podem ajudar? Procurando plataformas que permitam controle parental para a família decidir quanto tempo vai permitir de acesso às telas, analisar os conteúdos, saber se a criança irá consumir o conteúdo de maneira passiva ou se poderá aprender com ele”, exemplifica Luciane.
Segundo Joana, essa reflexão sobre extrapolar a tela é necessária também para tirar as crianças da passividade do consumo de conteúdo. “Quanto nós estamos disponíveis, como adultos, para sair da tela com a criança? Que outras possibilidades apresentamos para elas quando desligamos suas telas, por exemplo? Isso exige uma disponibilidade do adulto também”. E completa:
“Todas as emoções são válidas. A gente tem expectativa de ver a criança feliz, mas é preciso saber que a criança é um ser humano, que sente raiva, tristeza, todas as emoções são válidas e é preciso que elas expressem, e nós adultos precisamos pensar em caminhos, sermos mediadores para ajudá-las a encontrar esse espaço e saber o que fazer com esses sentimentos”.
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O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.
Gestor do Centro de Ensino Charles Darwin
Diretor pedagógico do Colégio Paulo Freire
Coordenadora pedagógica e professora de LIV no Colégio Batista de Itabuna
Psicóloga e coordenadora do Projeto Socioemocional do Colégio Sarah Dawsey
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