29/03/2022
Arte, Educação e Inclusão: um bate-papo LIV com Hélio Rodrigues
Em vídeo, arte-educador fala sobre estética, construção de ambientes inclusivos, preconceito e desenvolvimento socioemocional na escola. Confira!Artista plástico há mais de 50 anos, Hélio Rodrigues conta com uma carreira consolidada não só no mercado de artes como também na arte-educação nacional e internacional. É professor de artes e arte-educação em várias instituições de ensino no Brasil e autor do projeto social “EU SOU”, que busca a reconstrução da identidade através da arte de crianças e jovens em situação de risco. Além disso, é autor dos livros “Jogos sem Regras” e “Vertigens do Vazio”.
Durante o 3º Congresso LIV Virtual, ele realizou uma oficina exclusiva para escolas parceiras do programa LIV e em seguida gravou uma entrevista ao nosso blog. Você confere os melhores momentos dessa conversa a seguir:
A arte abre espaço para o desenvolvimento socioemocional
Um dos pontos debatidos por Hélio Rodrigues na entrevista é a relação entre a arte e o desenvolvimento socioemocional. De acordo com o artista plástico, a arte perpassa todas as áreas de conhecimento, incluindo os aspectos socioemocionais.
“A arte é uma liga entre fontes de conhecimento. Ela estimula, instiga e até prepara para todas essas fontes de conhecimento. Eu não acredito em uma boa formação, se não existe autoconhecimento minimamente estabelecido para dar partida. Isso vai nos acompanhar no decorrer da vida”, explica.
Nesse sentido, ele defende que o processo de autoconhecimento é perene e que cada descoberta abre portas para um novo cenário. “Isso tem uma ligação muito grande com a identidade e eu realmente não acredito em formação de conhecimento sem identidade”, explica, e completa:
“Conhecimento tem relação direta com desejos e escolhas. Sem essa base como fundamentação, a criança pode decorar, repetir, mas não é conhecimento, é uma informação decorada”.
Hélio também explica que um ambiente da arte onde se busca o autoconhecimento, estimulando a identidade individual, é um “terreno fértil” para que se possa transformar uma informação em conhecimento. “Informação é o que mais se tem por aí. Conhecimento é uma etapa que depende do sujeito e da sua formação e da relação dele com si próprio”.
Ele pontua ainda que a prática artística tem relação direta com o desenvolvimento emocional. “Como eu me coloco no lugar do outro para perceber as emoções do outro e me relacionar com ele? Isso me leva para o social. Só o conhecer-se, conhecer o outro e espelhar-se no outro já é uma fonte fundamental de conhecimento. Todo o resto vai agregar às matérias formais”.
A estética pessoal na arte-educação
Durante a entrevista, Hélio também afirma que, ao se trabalhar com arte-educação, é sempre necessário observar como os conceitos estéticos do educador afetam suas práticas.
“Sem uma revisão do profissional sobre suas próprias estéticas, ele acaba imprimindo sobre a criança expectativas que atendam às estéticas particulares. E quando falo estética, é da forma mais ampla, não só a estética da beleza, mas também a estética comportamental, do pensar, das opiniões etc.”.
Ele explica ainda que quando o educador tem “um leque bastante grande pode possibilidades estéticas, mais naturalmente ele vai acolher as estéticas do outro, ou seja, da criança”. Para ele, o professor que trabalha com prática artística, com exercício criativo, precisa ter essa vivência. “Ele não precisa ser um profissional, mas tem que minimamente, ter experimentado ou experimentar a arte”, pontua, e destaca:
“Já escutei professores que trabalham com arte dizer que não têm a menor capacidade para arte. Eu fico chocado, porque não é questão de capacitação, é de se permitir experimentar, mas a gente não se permite. E quanto mais conhecimento teórico se tem, mais distante a gente fica distante da prática artística”.
Nesse sentido, Hélio afirma que o medo de experimentar demonstrado por muitos adultos advém do medo de errar, e aponta: “A gente vive o mundo das não-dúvidas. É péssimo ter uma dúvida, é péssimo errar. Ninguém admite que errou, todo mundo só acerta. Mas a arte lida com a dúvida, a insegurança, o medo, com a alegria, o prazer, o desprazer. Nada passa por julgamento no terreno da arte”.
O olhar do educador para a arte e a inclusão
O terceiro assunto abordado na entrevista foi a importância da arte com práticas inclusivas. Nesse sentido, Hélio faz uma reflexão:
“A arte é democrática e só pode existir exercendo seu papel democrático. Em sendo assim, nada mais companheiro do democrático que o diverso. A questão não é aceitar a diversidade, é perceber o valor e a riqueza contida no diverso. […] O fato de a arte ser democrática vai absorver e necessitar o diferente, não importa o nível de diferença”.
Segundo o educador, a arte proporciona uma evolução para todos os alunos, tanto os de inclusão quanto de não inclusão, e permite a eles observar as diferenças e as conquistas do outro:
“Se uma proposta é complicada, ela não é boa para ninguém. A proposta tem que ser muito rica em termos de interpretação, em termos poéticos e simbólicos. Isso é acessado por todo mundo […]. Como cabem muitas interpretações, não vai haver aluno dizendo que o outro fez errado. O que a gente mais deve seguir como professor é a legitimidade, essa representação legítima desse aluno”.
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O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.
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