
25/07/2025
Culturas geracionais: como manter o diálogo entre gerações dentro e fora da escola
Você já reparou em como mudamos a forma de conversar ao longo do tempo? Se antes era comum sentar na calçada para ouvir as histórias dos adultos mais velhos, hoje, as interações ocorrem muitas vezes por rápidas mensagens de voz. Parece que falta qualidade no diálogo entre as gerações.
Não se trata de nostalgia nem de crítica ao presente: é sobre escuta. Sobre o que estamos construindo com as palavras que dizemos e também com as que deixamos de dizer.
Neste artigo, vamos refletir juntos sobre a comunicação entre diferentes culturas geracionais. Como a tecnologia influencia nossas relações? O que ainda resiste como tradição? E como escolas e famílias podem cultivar espaços de pertencimento, mesmo com formas tão distintas de sentir, aprender e se comunicar?
Entre telas e tradições: como equilibrar?
O diálogo entre gerações pode ser um caminho essencial para compreendermos as culturas geracionais e, mais ainda, para criarmos espaços seguros de convivência. Seja em casa, na escola ou na rua.
Há quem defenda a lei de proibição do uso de celulares nas escolas como forma de retomar a atenção dos estudantes. Outros acreditam que os dispositivos são ferramentas valiosas; desde que bem orientadas. E, talvez, a pergunta não seja “quem está certo?”, mas sim: que tipo de relação estamos cultivando com a tecnologia e com os outros?
Nosso desafio não é somente disciplinar o uso de telas, mas desenvolver nos alunos a capacidade de reconhecer e lidar com suas emoções diante da pressão digital. Por isso, um projeto socioemocional que dialogue com a realidade deles é tão importante.
Pode ser que os avós talvez prefiram contar suas histórias de infância com os olhos brilhando e pausas dramáticas. Já os netos estão mais acostumados aos vídeos de alguns segundos. Nenhuma das formas é melhor ou pior: elas são frutos de seus tempos. Mas é na escuta entre elas que mora a solução.
Onde moram as histórias?
Antigamente, alguns avós diziam: “Quem conta um conto, aumenta um ponto”. Esse ditado mostra que cada narrativa oral traz em si um pedacinho de quem a transmitia, costurada com afeto, medo, coragem e humor. Hoje, essas histórias correm o risco de silenciar.
Mas e se a gente criasse rodas de conversa na escola para ouvir os relatos das famílias dos alunos? Ou se incentivássemos os estudantes a gravar entrevistas com seus parentes sobre acontecimentos do bairro, país ou da família? Essas práticas podem valorizar a ancestralidade, recuperar o sentido de educação comunitária e fortalecem a empatia.
Afinal, uma escola que se abre para escutar as vozes de diferentes tempos e contextos não só ensina conteúdo, mas forma gente.
Inteligências que convivem
Segundo Howard Gardner (professor de psicologia na Universidade de Harvard e participante do Congresso Socioemocional LIV em 2018), a inteligência humana não é única, mas composta por diferentes formas de compreender e interagir com o mundo.
Por meio da Teoria das Inteligências Múltiplas, ele identifica sete tipos de inteligência:
- Lógico-Matemática: habilidade para lidar com números, padrões e raciocínio lógico;
- Linguística: facilidade com a linguagem falada e escrita, interpretação e comunicação;
- Espacial: capacidade de visualizar e manipular objetos mentalmente;
- Físico-Cinestésica: inteligência do corpo em movimento — dançarinos, atletas, artesãos;
- Interpessoal: habilidade de se conectar, perceber sentimentos e intenções de outras pessoas;
- Intrapessoal: autoconhecimento, reflexão sobre si mesmo, emoções e motivações;
- Musical: sensibilidade para ritmos, sons e estruturas musicais;
- Naturalista: compreensão e classificação de elementos da natureza;
- Existencial: reflexão sobre o sentido da vida, questões maiores e espirituais.
Essa visão mais ampla inspirou escolas a reverem suas práticas pedagógicas, criando ambientes que estimulam não somente o raciocínio lógico, mas também a expressão artística, o cuidado com o outro, autoconhecimento e a conexão com a natureza.
Quando combinamos essa compreensão com a inteligência emocional, conseguimos olhar para cada aluno, professor e responsável, como um universo único. Isso ajuda a atravessar as fronteiras entre as culturas geracionais com mais empatia.
Talvez o adolescente de hoje não entenda o encanto de ouvir a mesma história toda noite antes de dormir, mas pode descobrir o prazer de criar sua própria narrativa, com suas dores e delícias, compartilhando com seus pares e cuidando do seu mundo interno.
Escola que sente e acolhe
Mais do que um lugar de ensino, a escola pode ser um espaço de tradução entre mundos. Ela pode traduzir medos antigos para os dilemas atuais, sonhos passados em possibilidades futuras. Nesse papel, ela não apenas ensina sobre o mundo, mas também ensina a conviver no mundo.
Para isso, é preciso que o ambiente escolar reconheça as tensões naturais entre gerações e promova o acolhimento como prática pedagógica. Isso vai além de projetos pontuais: envolve escutar ativamente os alunos, compreender as linguagens que utilizam, legitimar seus repertórios culturais e emocionais — mesmo quando diferentes dos adultos ao redor.
É possível, por exemplo, integrar nas propostas curriculares temas como narrativas familiares, músicas de diferentes épocas, saberes tradicionais e cotidianos. Um mural de memórias construído por estudantes e seus familiares, oficinas intergeracionais ou rodas de escuta sobre o bairro onde vivem, podem gerar vínculos que nenhum conteúdo decorado alcança.
Quando a escola se torna esse lugar de encontros genuínos, ela planta uma semente poderosa: a de que toda geração tem algo a ensinar — e muito a aprender.
Se a gente puder cultivar o solo comum entre o passado e o futuro, talvez o presente fique mais leve. Mais compartilhado. Não precisamos escolher entre o que era e o que é. Podemos construir um caminho onde tudo isso convive, mesmo sem o equilíbrio perfeito, mesmo que em processo.
Se você é pai, mãe, professor ou professora, fica o convite: que tal pensar na escola como um espaço de troca verdadeira? Onde o diálogo entre gerações não é um desafio, mas uma possibilidade.
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Conheça nosso programa da 3 série ensino médio
O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.