LIV para o mundo >
Blog
Blog
Todas as publicações

Nanda Perim, a PsiMama fala sobre birra e novos modos de educar no podcast do LIV

Quando uma criança faz birra no meio da rua, os responsáveis conseguem, em grande parte dos casos, perceber os olhares de reprovação das pessoas ao redor. Sentindo-se julgados, muitos optam por tentar resolver a situação da forma mais rápida possível: os caminhos mais usados são satisfazer imediatamente a vontade da criança, de forma a acabar com a cena, ou, ao contrário, negar o que ela deseja de maneira ríspida e retirá-la do local, até mesmo com o uso da força.

O que poucos fazem é se colocar no lugar da criança e tentar entender o que há por trás da explosão. Mas, tachá-la de mimada é ignorar uma série de necessidades que ela pode estar tentando expressar e, por falta de maturidade e repertório emocional, não consegue demonstrar de outra forma. Julgar a família é outro equívoco recorrente.

É o que acredita a psicóloga e influenciadora Nanda Perim, conhecida como PsiMama, e convidada do segundo episódio da nova temporada do ‘Sinto Que Lá Vem História’, videocast do LIV sobre educação, habilidades socioemocionais, relacionamento, parentalidade e muitos outros temas importantes para famílias e educadores.

Se a criança não tem as demandas dela supridas, vai fazer pedidos deslocados. Se, por exemplo, fizer uma birra no supermercado porque quer biscoito recheado, a gente precisa entender que ela não vai pedir se não estiver com fome, se não estiver necessitando de algum nível de atenção, se sentindo esquecida e negligenciada, não vista. Não é justo achar que a mãe não se preocupa e nem resumir a criança a mimada. A gente ignora uma série de necessidades, de outras questões”.

 

Voltando ao passado para entender o presente

No encontro com Renata Ishida, gerente pedagógica do LIV, e Joana London, diretora pedagógica, Nanda ressaltou que é preciso ter um outro olhar para as crianças e desconstruir crenças já enraizadas. Segundo ela, a construção filosófica- histórico-cultural de que o adulto é hierarquicamente superior à criança reverbera até hoje, fazendo com que muitos considerem que as crianças não valem o tempo e a energia do adulto. 

“A gente evoluiu como sociedade em muitas questões, ou pelo menos estamos mais conscientes delas, mas a infância, infelizmente, ainda está marginalizada, não tem um grande representante. As crianças acabam sendo marginalizadas dentro dos marginalizados”.

Este cenário, diz Nanda, cria batalhas que podem ser injustas tanto com os cuidadores quanto com as crianças. Ela conversou sobre como agir, como dizer sim e não, sem ser permissivo ou autoritário, e sugeriu alguns passos para construir relações mais saudáveis. Para a PsiMama, uma das chaves é que os adultos entendam a importância de desenvolver, eles próprios, inteligência emocional para lidar com suas emoções e, assim, poder entender melhor as crianças. 

“Nós não crescemos em escolas que tinham o LIV, mas em que mandavam a gente ficar quieto, ir  para o canto se fizéssemos besteira. Além de não termos tido educação socioemocional, temos uma cultura ao nosso redor reforçando que a criança é mimada. Então, os pais educam com medo de a criança virar tirana e com o medo do julgamento de quem assiste a uma cena de birra.”

Essa equação tem ainda outro componente, o fato de ser impossível se conectar em dois lugares ao mesmo tempo. 

“Não dá para se conectar à criança para ajudá-la a se acalmar, a se alfabetizar emocionalmente, se estamos conectados aos julgamentos ao redor”

Autoconhecimento pode ser a solução 

Na prática, então, como agir? Como desenvolver essa conexão? Nanda recomenda que o primeiro passo para uma boa comunicação entre pais e filhos seja um trabalho interno de autocuidado: 

“Se quisermos quebrar ciclos e dar uma educação que não foi a que recebemos, a primeira coisa é nos tratarmos com mais carinho. As chances de respondermos aos erros da criança com mais compreensão, empatia, e de acolhê-la naturalmente será maior porque o carinho com nós mesmos é o que vai ditar nossa relação com todo mundo”. 

O autoconhecimento, defende Nanda Perim, é outro pilar que ajuda na construção de um relacionamento baseado no afeto, e não em enfrentamentos desnecessários e frustrações de ambas as partes.

“Essa parte do autoconhecimento ajuda a não levar para o pessoal, a não achar que a criança está fazendo por mal, não achar que ela está te desafiando. É entender que você e sua criança são do mesmo time. Se você enxergar a educação infantil como um cabo de guerra, a criança sempre vai perder, e não vai aprender, não vai se desenvolver, vai ficar insegura e arriscar menos”. 

Construindo uma comunicação respeitosa

Na hora da comunicação, quando se explica ou se reforça os combinados, Nanda contou ter reparado que muitos pais optam por uma conversa longa, para a qual as crianças ainda não estão preparadas. O processo pode ser mais eficiente com comandos simples, desde que a lógica por trás dessa prática faça sentido para os cuidadores.

“Uma coisa é só sugerir que você faça perguntas de sim ou não, outra é explicar para os pais que aquela criança naquela fase de desenvolvimento está muito autocentrada. Ela está passando por um processo no qual não consegue focar no outro, então se você falar demais, ela vai perder o foco em você”, explica. 

Diante deste desafio de falar com uma criança que acha que o mundo dela é o mudo de todos, e que tem dificuldade de aceitar um não, Nanda também identificou três modelos que os pais costumam adotar na hora das negociações do dia a dia. O primeiro é o autoritarismo, uma atitude desrespeitosa, baseada no medo, na qual o respeito vai apenas da criança para a figura responsável, sem que ela seja ouvida e seja levada em  consideração. No segundo modelo, da permissividade, muitas vezes invocada para não gerar frustração dos pequenos, ocorre o oposto.

“Já na visão permissiva, o respeito vai só do adulto pela criança, ele fica refém do pensamento da criança. E isso pode ser negligente, pois você deixa de ensinar habilidades de vida como respeitar o outro, a se comunicar, e a viver em sociedade”, afirma, explicando que a visão autoritária pode acarretar o mesmo problema, pois a criança pode ficar com medo de se expressar e dar a própria opinião.

E há a terceira via, da educação democrática, onde o respeito é mútuo e, ressalta Nanda, deve ser incondicional. Essa parceria pode ser construída com o adulto assumindo outro papel, o de que precisa aprender a agir de formas diferentes das quais foi criado.

“Eu tenho o dever de dizer para a criança que está sendo desrespeitosa comigo. Não tenho o direito de gritar com a criança, ser desrespeitoso de volta, e nem a negligência de ignorar e achar que eventualmente ela irá aprender”, explica a psicóloga.

Frustrar ou não, eis uma questão que exige reflexão

Outro ponto abordado pela PsiMama foi a frustração: é preciso deixar mesmo a criança se frustrar para aprender como é a vida, como muitos defendem, ou é necessário acolher quando algo sai muito diferente do que as crianças desejam? 

“Tem gente que fala que para ensinar a criança a lidar com  a frustração é preciso  frustrá-la. Mas vamos pensar: se  nunca frustramos nossos filhos, eles já têm uma vida muito frustrante, pois ser criança é frustrante. Então, é preciso a gente se  frustrar bem, direito, na frente da criança e  acolher quando ela estiver frustrada. Se mudamos a narrativa e ensinamos a criança a ter todo o direito de ficar frustrada, a dizer que está tudo bem, estamos ensinando muito mais, apesar de a cultura tradicional dizer que estamos passando a mão na cabeça.”

Gostou do bate-papo e quer saber mais sobre a conversa? O episódio com Nanda Perim já está disponível e você pode conferir na íntegra no Youtube do LIV, no player do Spotify abaixo ou nas outras plataformas de áudio.


Quer conhecer mais sobre o LIV e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais? Confira mais nas redes sociais e fique ligado nos próximos episódios do Sinto que Lá Vem História.

Nanda Perim, a PsiMama fala sobre birra e novos modos de educar no podcast do LIV -LIV Inteligência de VidaNanda Perim, a PsiMama fala sobre birra e novos modos de educar no podcast do LIV -LIV Inteligência de VidaNanda Perim, a PsiMama fala sobre birra e novos modos de educar no podcast do LIV -LIV Inteligência de VidaNanda Perim, a PsiMama fala sobre birra e novos modos de educar no podcast do LIV -LIV Inteligência de VidaNanda Perim, a PsiMama fala sobre birra e novos modos de educar no podcast do LIV -LIV Inteligência de Vida


Navegue por tags:



O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.