
24/06/2025
O impacto das redes sociais na adolescência: um olhar sobre a série Adolescência
As redes sociais já fazem parte do dia a dia de quase todo adolescente. Estão nas conversas em grupo, nos momentos de lazer e, muitas vezes, também na hora de dormir. Diante disso, talvez a pergunta não seja mais se devemos ou não permitir o uso das redes, mas como compreendê-las para apoiar os adolescentes a lidar com seus efeitos.
Esse também passou a ser o questionamento de muitas pessoas que assistiram a série da Netflix “Adolescência”. Ela traz temas difíceis, daqueles que nem sempre sabemos como conversar: saúde mental, a relação entre pais e filhos, o papel da escola no combate ao bullying e o cyberbullying… e principalmente, o impacto das redes sociais.
Talvez tenha feito tanto sucesso não só pela atuação incrível dos atores, mas porque nos faz refletir sobre questões importantes que, muitas vezes, deixamos de lado no dia a dia.
Ao acompanhar os episódios, percebemos como os adolescentes enfrentam temas delicados — o desejo de se sentir parte de um grupo, a busca pela própria identidade e a necessidade constante de ser reconhecido.
Essas questões não aparecem sozinhas; elas estão entrelaçadas com as relações familiares, as experiências na escola, as expectativas da sociedade e, claro, o mundo das redes sociais.
Mais do que acompanhar só a história do protagonista, é importante abrir o olhar para os diferentes contextos que revelam as várias formas de sofrimento que a série traz à tona.
Em meio a tudo isso, estão as redes sociais — ora como espaço de conexão, ora como gatilho de comparações, frustrações e angústias. Levando em consideração a repercussão da série, neste artigo, vamos conversar sobre:
- Como as redes influenciam a saúde mental;
- A construção da identidade e os vínculos com a escola e a família — sem respostas prontas, mas com perguntas que nos ajudam a refletir sobre os desafios e possibilidades dessa etapa em meio a uma adolescência cada vez mais conectada.
Redes sociais na adolescência: entre conexão e conflito
“Será que eu estou postando demais?” “E se ninguém curtir?” “Por que todo mundo parece mais feliz do que eu?” Essas são perguntas que muitos adolescentes normalmente fazem — mesmo que em silêncio — quando navegam pelas redes sociais.
Hoje, essas plataformas fazem parte do cotidiano dos jovens e podem moldar suas relações,autoestima e até a maneira como veem o mundo. Mas será que como educadores e responsáveis, estamos realmente preparados para entender esse universo e oferecer o apoio que os adolescentes precisam? Durante essa fase, o olhar do outro ganha um peso muito maior. Os jovens começam a construir sua identidade, explorando gostos, estilos e ideais.
As redes sociais funcionam como uma vitrine onde se pode testar tudo isso e, ao mesmo tempo, como um espelho onde a aprovação (ou a falta dela) fica evidente. Por isso, apesar dos desafios, as redes também trazem impactos positivos na adolescência, como ampliar repertórios, ajudar a encontrar comunidades com interesses em comum e criar espaço para expressar opiniões.
Mas também podem gerar pressão por desempenho, medo de exclusão, ansiedade e comparação constante. Na série, vemos como Jamie se sente observado o tempo todo, tentando atender a expectativas que nem sempre são suas. Esse olhar constante pode intensificar inseguranças e afetar profundamente a forma como o adolescente se percebe.
Ao mesmo tempo, revela uma urgência: precisamos olhar com mais cuidado para o que está por trás da tela — e, principalmente, para quem está do outro lado dela. Isso exige mais do que escuta: pede presença, orientação e a construção ativa de limites saudáveis.
Redes sociais e a construção da identidade
Outro ponto forte da série é o questionamento sobre os papéis sociais. Jamie, ao longo da trama, se pergunta o que é ser homem, o que esperam dele, e como pode expressar sua identidade. As redes, nesse sentido, funcionam como palco e plateia ao mesmo tempo.
Por isso, precisamos abrir espaços para os adolescentes descobrirem quem são com liberdade, mas também com acolhimento. Escutá-los é o primeiro passo para compreendê-los.
E compreender não significa concordar com tudo ou se omitir diante de comportamentos que ferem o outro ou a si. Responsabilizar é diferente de punir. É reconhecer que escolhas têm consequências — mesmo na adolescência.
Impacto das redes sociais na saúde mental dos adolescentes
É importante observar como as redes sociais influenciam os estados emocionais dos jovens. O impacto das redes sociais na saúde mental dos adolescentes pode se manifestar de várias formas: queda da autoestima, isolamento, alteração no sono, dificuldade de concentração ou sensação de inadequação.
A série retrata como o ambiente virtual, por vezes, se torna um território de cobranças, rótulos e exclusões. O bullying digital não é apenas uma brincadeira de mau gosto — ele pode deixar marcas profundas.
Esse é um ponto importante para nós, educadores e familiares: olhar para os sinais, escutar com atenção e construir um espaço de acolhimento e conversa sobre o que está sendo vivido no ambiente digital.
Mas também precisamos monitorar, orientar e proteger. O acompanhamento dos pais, com interesse genuíno, é um cuidado necessário.
Conhecer as plataformas utilizadas, conversar sobre os riscos e auxiliar os adolescentes a desenvolver critérios éticos nas redes são caminhos possíveis para criar vínculos mais fortes e relações digitais mais saudáveis.
Mas é fundamental lembrar que educar adolescentes em tempos digitais é um desafio coletivo e contínuo. Nem sempre os adultos terão respostas imediatas ou conseguirão evitar todas as situações difíceis — e tudo bem.
Culpar-se por não ter controle total sobre o que acontece nas redes não ajuda. O mais importante é estar disponível, manter o canal de diálogo aberto e seguir aprendendo com os adolescentes.
E o papel da família?
A série mostra que criar um filho é um processo repleto de camadas. Não existe um roteiro a seguir — o que importa é estar presente. A parentalidade se constrói no meio das tentativas, dos tropeços, dos ajustes e, principalmente, do afeto.
Ela nos convida a refletir com perguntas importantes:
- É possível educar sem falhar?
- O que diferencia um erro de uma culpa?
- Como encontrar o equilíbrio entre permitir autonomia e exercer responsabilidade?
- E onde se encaixam as dinâmicas entre irmãos nesse processo?
Essas questões revelam que, mesmo em famílias consideradas “comuns”, há complexidades invisíveis. Adolescência mostra que cada decisão, cada reação e cada silêncio carregam camadas de experiências. E que, na adolescência, isso tudo ganha ainda mais intensidade. Não há resposta única — há contextos, histórias e vínculos que precisam ser olhados com empatia.
Não se trata de justificar ações inadequadas com base em vivências difíceis, mas de olhar com profundidade para os contextos que favorecem ou inibem determinadas escolhas.
É nesse sentido que os limites são também formas de afeto. Estar perto, mas não ser permissivo. Confiar, mas orientar. Ajudar a construir responsabilidade sobre os próprios atos.
A escola como espaço de escuta e pertencimento
A escola de Jamie reflete questões reais que influenciam nas relações entre os alunos. Embora sonhemos com um ambiente escolar acolhedor, às vezes ele pode ser fonte de sofrimento. Devemos lembrar que a escola é um espaço social no qual as disputas por pertencimento, as desigualdades, o bullying e os preconceitos também podem se manifestar.
Por isso, é essencial cultivar relações genuínas, promover trocas honestas e criar espaços onde os adolescentes se sintam vistos e ouvidos. A vivência escolar vai muito além do conteúdo: é ali que se constroem os laços, os limites, a identidade.
E aqui entra o papel da educação socioemocional nas escolas: desenvolver escuta, empatia, autorregulação e consciência sobre o que se sente e como isso impacta o outro. Essa educação não é um conteúdo a ser ensinado, mas um campo de experiências e relações.
No LIV, por exemplo, essa proposta aparece de forma viva. Em nossas atividades, provocamos reflexões sobre identidade, pertencimento, autocuidado e relações. Sabemos que não se trata de proteger os jovens de todo sofrimento, mas de ajudá-los a nomear, compreender e atravessar essas experiências com mais consciência e apoio.
E se ouvíssemos mais?
Mais do que proibir ou restringir o uso das redes sociais na adolescência, o convite é para conversar sobre elas. O que você vê? O que sente ao ver isso? O que é verdadeiro e o que é editado? Como você gostaria de ser visto?
Essas perguntas auxiliam os adolescentes a se perceberem, a ganhar autonomia e a criar relações mais saudáveis com o mundo digital.
Por fim, a série Adolescência nos lembra de algo essencial: os adolescentes não precisam de respostas prontas, mas de escuta real. Quando escutamos com presença — sem interromper, corrigir ou apressar — abrimos espaço para que eles confiem, compartilhem, cresçam.
Mas depois da escuta, vêm os outros passos: o diálogo contínuo, o monitoramento afetivo, os limites acordados e o acompanhamento ativo.
As redes sociais na adolescência continuarão sendo parte da vida dos jovens. A questão é: vamos seguir apenas observando de longe ou vamos nos aproximar com curiosidade, cuidado e disposição para aprender com eles?
Que possamos, como educadores, pais e responsáveis, construir pontes. Nem sempre teremos controle, mas podemos estar por perto. E, muitas vezes, isso já faz toda a diferença.
Gostou de entender sobre a influência e o impacto das redes sociais na adolescência? Nós indicamos o episódio do “Sinto Que Lá Vem História” que aborda um tema importante sobre a adolescência: Crise na adolescência: onde estamos errando?
Veja a seguir nosso artigo: Temáticas para adolescentes: como abordar temas difíceis | Aprendizagem baseada em problemas: exemplos
O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.