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Saúde mental, um tema para ser discutido o ano inteiro

Renata Ishida, gerente pedagógica do LIV, conversa com o Blog sobre ações para melhorar a qualidade da saúde mental e o papel das escolas neste tema

O início do ano começou com a campanha Janeiro Branco, que procura conscientizar sobre a importância da saúde mental, reforçando a necessidade e a disseminação de práticas de autocuidado. Durante o mês, dados sobre ansiedade e depressão foram compartilhados, jornais e revistas falaram sobre como é importante fazer pausas e olhar para nós mesmos e, além disso, não faltaram reportagens com “dicas” para manter o emocional em dia.

Mas, será que, com o fim da campanha, pode-se deixar o assunto saúde mental cair no esquecimento? A resposta é curta: claro que não! O cuidado precisa ser permanente e, mais do que isso, necessita ser coletivo, lembra Renata Ishida, gerente pedagógica do LIV.

Saúde mental, um tema para ser discutido o ano inteiro -LIV Inteligência de Vida

“O fato de existir um mês inteiro dedicado a uma campanha, que pressupõe a participação de muitos atores, já indica que o cuidado com a saúde mental não é exclusivamente individual. A saúde mental é multifatorial e depende também de práticas, políticas e iniciativas coletivas”, diz Renata.

 

A gerente do LIV alerta que saúde mental é bem diferente de felicidade. Para saber o que é estar mentalmente saudável e entender um pouco mais sobre qual o papel da coletividade e da educação socioemocional neste assunto, conversamos com Renata sobre emoções, ansiedade e muito mais. Confira abaixo:

Como podemos definir saúde mental?

Renata: Quando falamos em saúde mental, qual é a primeira coisa que vem à cabeça? Para muita gente, e acredito que para a maioria das famílias, a saúde mental está relacionada a uma sensação de bem-estar, e esta, por sua vez, vem associada a uma imagem de alguém alegre, sorrindo e cheio de disposição. 

Talvez seja aí que more o grande perigo: saúde mental não é sinônimo de felicidade. 

A vida é recheada de surpresas, muitas delas nem sempre agradáveis, incluindo perdas e conflitos. Responder sempre com alegria a tudo isso não faz sentido.

Em uma situação de tensão, por exemplo, eu posso sentir medo e ficar em alerta. Neste momento, não ficar contente não significa que estou adoecido ou que minha saúde mental está comprometida. Pelo contrário, mostra que consigo identificar um cenário de risco e, assim, me organizar para me proteger. 

Felicidade, assim como tristeza, raiva e medo são sentimentos que fazem parte da experiência e do desenvolvimento humano. Sentir cada um deles nos faz aprender sobre o mundo e sobre nós mesmos. Por isso, a felicidade não é um lugar de chegada nem uma conquista permanente. O que podemos viver são momentos de alegria, assim como vivemos os de tristeza e de outras emoções.

Mas, então, o que é, na prática, ter saúde mental?

Renata: Se a vida é essa montanha-russa de acontecimentos, saúde mental é ter as condições e recursos para conseguir passar por esses obstáculos e imprevistos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que uma pessoa saudável seria aquela capaz de usar suas habilidades para recuperar-se do estresse rotineiro.

A saúde mental não pode ser entendida como um estado estático, permanente ou pleno, mas, sim, um processo cotidiano sobre a maneira como nos relacionamos com nós mesmos e o mundo à nossa volta.

Dessa forma, assim como a saúde “física”, a saúde mental requer manutenção e acompanhamento no dia a dia. Não existe uma única pessoa ou instância responsável pela nossa saúde mental. Não podemos cuidar sozinhos dela, nem acreditar que a família ou a escola darão conta de tudo, por exemplo. 

Ninguém está disponível o tempo todo, nem é capaz de oferecer tudo o que precisamos, por isso a importância de uma rede de pessoas, serviços e estratégias para que nossa saúde seja sempre estimulada e alimentada.

Como podemos cuidar da nossa saúde mental? Desacelerando? Criando menos expectativas? Pode dar algumas dicas?

Renata: A saúde mental é uma responsabilidade coletiva. Ter acesso à educação, moradia, saneamento básico, trabalho, alimentação e transporte é o mínimo para que possamos começar a falar em saúde de maneira geral.

Tentar criar alguns mecanismos individualmente para ajudar a cuidar da saúde mental, como organizar a agenda garantindo um tempo de lazer e descanso pode ser frustrante para quem tem condições de vida que não permitem que esse tempo exista (com obrigações de trabalho e domésticas, e sem recursos financeiros para terceirizar algum serviço, por exemplo). Ou seja, individualizar a responsabilidade pode ser um risco e aumentar o sofrimento.

O que podemos fazer no âmbito individual, então?

Renata: Garantir espaços de fala e escuta. Ter com quem compartilhar o que sente, sem julgamento, com presença e tempo de qualidade é o ponto central de cuidado. Práticas que abrem espaço para o encontro e a escuta são o segredo para esse cuidado.

Dados da OMS mostram que 14% dos adolescentes do mundo sofrem com algum transtorno mental. Quais os mais frequentes? No que estamos errando com os jovens?

Renata: Os transtornos mais encontrados hoje em dia nas escolas são o de déficit de atenção e hiperatividade, ansiedade, depressão, cutting, transtorno opositivo desafiador e adição.

Não existe motivo exclusivo, os transtornos são sempre multifatoriais, mas é importante lembrar que antes dos sintomas há sempre sofrimento, e antes do diagnóstico há sempre uma história. E são essas histórias e sofrimentos que precisam ser escutados e acolhidos. Estamos errando em olhar apenas para os sintomas e não para quem os vive.

Qual é o papel das escolas?

Renata: As escolas podem ajudar garantindo espaços seguros de fala e escuta e promovendo uma educação que visa ao desenvolvimento socioemocional, como a comunicação, autoconhecimento e pensamento crítico. Para tanto é importante instrumentalizar e formar suas equipes, ponto que consideramos fundamental no trabalho que desenvolvemos no LIV.

O LIV traz propostas coletivas de cuidado, com práticas de fala e escuta, discussões e sensibilização. O desenvolvimento socioemocional individual só se dá porque coletivamente o ambiente dá condições e ferramentas para isso.

Se quisermos, por exemplo, que não haja mais casos de bullying na escola, não basta ficar punindo quem foi considerado agressor de cada história, é preciso abrir espaço para falar sobre assédio, racismo e outros tipos de violência, de forma transversal. Se o assunto é silenciado, ele não é reconhecido e não pode ser combatido. 

Se uma adolescente está com anorexia, por exemplo, é importante acompanhamento especializado e individual com profissionais da saúde. Mas também temos que refletir coletivamente sobre que padrões de beleza estamos reforçando e exigindo.

E a saúde mental do professor, como pode ser cuidada? Sabemos que os números de burnout e afastamento por problemas de saúde mental só aumentam. Por quê?

Renata: Segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho, os professores estão entre os profissionais que mais sofrem de transtornos mentais no Brasil. Muitos trabalham em mais de uma ou de duas escolas e ainda levam tarefas para casa. Eles aprendem a fazer muito com pouco recurso e tempo e sofrem diferentes tipos de pressão.

O professor tem uma carga mental que não é só de ensinar o conteúdo. Ele está envolvido na formação humana, na mediação de conflitos, tem a responsabilidade de ajudar a desenvolver as habilidades socioemocionais dos alunos, acolher as expectativas das famílias. E, além disso, ainda tem suas próprias questões. E, mesmo diante disso tudo, sete em cada 10 professores afirmam que não recebem qualquer tipo de apoio para a saúde mental.

É importante que o ambiente de trabalho seja um lugar seguro para o professor, no qual ele tenha espaço de escuta e possa estabelecer parcerias que o apoiem e o fortaleçam.

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Gostou do conteúdo e quer conhecer mais sobre o LIV e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais? Confira mais nas redes sociais e fique ligado nos episódios do nosso podcast Sinto que Lá Vem História.

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