25/08/2025
Escolas sem celulares: como estamos vivendo esse novo capítulo
Em janeiro de 2025, foi sancionada a Lei n.º 15.100, que proíbe o uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos em sala de aula nas escolas públicas e privadas do Brasil. Aprovar uma lei é como apertar o botão “enter” para uma nova conversa. E é exatamente isso que está acontecendo: uma reflexão sobre o uso de tecnologias nas escolas.
A decisão tem levantado questionamentos importantes para educadores, famílias e estudantes. Por exemplo: Como preencher o tempo antes ocupado pelas telas? O que fazer para transformar a ausência do celular em presença real no ambiente escolar?
Que experiências podem ser propostas para que o estudante não somente “sobreviva” sem o celular, mas se envolva com o mundo ao redor? Vamos refletir juntos?
Escola como pausa do mundo virtual: um convite ao mundo real
Nesse novo cenário, a escola pode ser vista como uma pausa. Um lugar onde o ritmo muda, os olhos se encontram e os sentidos se expandem. Um espaço onde é possível brincar, conversar, se frustrar, criar, errar e tentar de novo.
Mas talvez não seja saudável que os alunos vivam experiências assim somente nesse momento do dia. A conversa sobre telas vai além da proibição na escola e do impacto que isso pode ter na aprendizagem ou nas relações que acontecem ali.
Essa legislação nos convida a pensar sobre outras formas de nos relacionarmos com a vida, as pessoas e conosco; em um mundo onde as telas estão sempre por perto. Na verdade, a escola pode ser um ponto de partida para essa reflexão. Mas o desafio e as possibilidades podem se estender para casa, espaços públicos e cada interação cotidiana.
Podemos dizer que a proibição do celular nas escolas, por si só, não garante a construção de vínculos nem o engajamento dos alunos. Por isso, é preciso pensar: como podemos tornar a sala de aula uma experiência mais instigante, transformadora e significativa?
Mais do que proibir, é necessário propor. Mas o quê? Podem ser jogos cooperativos, rodas de conversa, leitura compartilhada, projetos interdisciplinares e mais espaços ao ar livre. Tudo isso pode contribuir para que o tempo “offline” seja vivido com qualidade — e, por que não, com alegria, descoberta e aprendizado.
Ao mesmo tempo, o controle das telas não deve se limitar aos muros da escola. É uma construção coletiva, que envolve família, sociedade e, claro, os próprios alunos. Afinal, se a criança passa o dia desconectada na escola, mas mergulha por horas em jogos ou redes sociais em casa, os efeitos positivos podem não ser tão efetivos.
Então, como proteger, integralmente, as crianças e adolescentes contra o uso excessivo de telas? Não há uma única resposta. Mas há uma certeza: educar para o mundo digital exige presença no mundo real (seja na escola, no lar ou na sociedade) — e essa presença é feita de escuta, de tempo compartilhado e de experiências que envolvem mente, corpo e coração.
O videocast “Sinto Que Lá Vem História” nos convida a refletir
Com episódios quinzenais, o videocast “Sinto Que Lá Vem História” do LIV é um convite para refletir sobre temas urgentes da infância, da adolescência e da vida em família.
O videocast é um espaço de escuta e troca. Não se trata de dar respostas prontas, mas de abrir caminhos para perguntas mais potentes. É também uma forma de levar o programa socioemocional LIV a mais pessoas, com conteúdo acessível, leve e profundo.
Telas, afetos e limites
Na estreia da terceira temporada, Daniel Becker (pediatra, sanitarista e ativista pela infância) propõe uma reflexão sobre o uso da tecnologia nas escolas, especialmente à luz de medidas recentes, como a proibição de celulares em sala de aula. A proposta aqui não é dizer se está certo ou errado — e sim entender quais impactos essa decisão pode ter no desenvolvimento emocional, social e cognitivo dos alunos.
Durante a conversa, Daniel Becker também amplia o olhar para além da escola: o uso de tecnologia começa em casa e reflete diretamente no comportamento das crianças e adolescentes. Muitos pais se sentem perdidos na hora de estabelecer limites — e a escola acaba herdando parte dessa sobrecarga.
No decorrer do videocast, surgiram alguns questionamentos importantes que foram debatidos, como: quantas horas por dia um aluno pode ficar exposto a telas? O que fazer quando um estudante troca as interações sociais presenciais pelos jogos online? Como falar sobre vício em tecnologia com leveza e acolhimento?
Essas perguntas são ganham ainda mais força quando lembramos que o desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes está diretamente ligado à qualidade das relações. Por isso, refletir sobre o uso de tecnologia nas escolas é, também, cuidar da saúde mental e emocional da comunidade escolar.
Conversas que cuidam: outros convidados da nova temporada do videocast do LIV
A terceira temporada do videocast reúne outros especialistas de diferentes áreas para falar sobre desafios comuns às famílias e escolas. Entre os convidados estão nomes como:
- Mia Couto, escritor e vencedor do Prêmio Camões, falando sobre identidade e cultura;
- Vanessa Cavalieri, juíza da Vara de Infância e Juventude, abordando redes sociais e adolescência;
- Alexandre Coimbra Amaral, psicólogo e escritor, discutindo os limites do erro;
- Gabriela Kapim, nutricionista, trazendo reflexões sobre alimentação e vínculos afetivos.
A proposta é simples e poderosa: criar um espaço seguro para conversas que cuidam — da infância, da escola e das famílias.
Entre os temas que serão abordados nos próximos episódios estão os conflitos entre irmãos, os dilemas da maternidade, a importância do brincar, o uso de bebidas alcoólicas na adolescência e muitos outros assuntos delicados, tratados com escuta e empatia.
Para refletir (e acolher)
Como diz Renata Ishida, psicóloga e gerente pedagógica do LIV:
“Educar é uma tarefa diária e sem garantia de sucesso. A gente tem muitas dúvidas, medo, cansaço, incertezas. Faz parte do desafio. Mas isso também não significa que a gente não possa explorar caminhos que podem ajudar.”
E se esse caminho envolver menos julgamento e mais afeto? Menos respostas prontas e mais perguntas genuínas?
A escola, como espaço de desenvolvimento integral, pode ser também o lugar onde se aprende a usar a tecnologia com propósito, ética e sensibilidade. Onde se fala de limites, sim, mas também de possibilidades. Onde se integra o digital ao humano, sem que um anule o outro.
Acompanhe a nova temporada do videocast “Sinto Que Lá Vem História”, disponível no YouTube e Spotify. São episódios leves, profundos e acolhedores, que vão ajudar você — educador, gestor ou familiar — a navegar com mais segurança (e menos culpa) pelos mares digitais da infância e da adolescência.
Porque educar é, acima de tudo, caminhar junto. E, nesse percurso, toda boa conversa sobre o uso de tecnologia nas escolas faz diferença.
O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.