
18/07/2025
Violência escolar: causas, consequências e como combater
Nos últimos anos, os casos de violência escolar cresceram de forma preocupante no Brasil.
Conforme o Boletim Técnico Escola que Protege, publicado pelo Ministério da Educação (MEC), desde 2001, foram registrados 43 ataques de violência contra escolas brasileiras, resultando em 168 vítimas, sendo 115 pessoas feridas e 53 fatais.
Entre as vítimas fatais, 6 eram os próprios autores dos ataques. Um dado alarmante é que aproximadamente um terço desses episódios (15 casos) terminou com ao menos uma morte.
Esses números nos deixam assustados, não é? Mas talvez possam servir como um ponto de partida para algo ainda mais necessário: a reflexão. O que tem acontecido nas nossas escolas? E o que podemos fazer — em conjunto — para cuidar melhor desses espaços e das pessoas que estão neles?
A escola como parte da vida — e da sociedade
Antes de buscar respostas, talvez seja importante lembrar que a escola não está isolada do mundo. Ela carrega, em seus corredores e salas, as marcas da sociedade em que vivemos. Muitas vezes, é justamente ali que crianças e adolescentes encontram algum espaço para serem ouvidos, acolhidos, reconhecidos.
É também na escola que podem emergir os conflitos, tensões e dores que vêm de fora, mas que ganham forma ali. No entanto, com as práticas certas, podem ganhar também nome, cuidado e escuta. Ao invés de enxergar a escola somente como palco dos problemas, talvez possamos reconhecê-la como parte da solução.
Que formas a violência escolar pode assumir?
Quando se fala em violência escolar, alguns pensam somente nas situações mais extremas, como os tristes casos de ataques letais em escolas e creches. Mas a violência também pode se mostrar de formas mais sutis, silenciosas… e nem por isso menos dolorosas.
O Ministério da Educação classifica esses episódios em:
- Agressões extremas, como ataques com vítimas;
- Violência interpessoal, como brigas, ofensas e humilhações entre colegas ou entre estudantes e professores;
- Bullying, com agressões repetidas e direcionadas, sejam físicas, verbais ou psicológicas;
- Violência no entorno da escola, como tráfico, tiroteios ou assaltos na vizinhança.
O já citado artigo do G1, mostra que mais da metade das ocorrências registradas envolve agressões físicas. E um número significativo aponta para violência psicológica (23,8%) e sexual (23,1%). Muitas vezes, o agressor é alguém próximo: um colega de classe, um conhecido do dia a dia.
As marcas que ficam
A violência escolar vai muito além do momento em que acontece. Ela deixa rastros — na autoestima, nos vínculos, no desejo de aprender e na forma como o mundo é percebido. Algumas das consequências mais comuns incluem:
- Dificuldade de aprendizagem e queda no desempenho escolar;
- Isolamento social, ansiedade e depressão;
- Desinteresse pela escola e até evasão;
- Rompimento de vínculos afetivos e rejeição de figuras de autoridade.
Além disso, quando a violência vira rotina, todo o ambiente escolar passa a ser atravessado por medo, insegurança e desconfiança. Não é mais um lugar de construção — e sim de sobrevivência.
Como conversar sobre a violência com crianças e adolescentes?
Não há uma única forma certa. Mas algumas atitudes podem ajudar a tornar esse diálogo mais acolhedor:
- Perguntar o que eles sabem, como souberam e como se sentem;
- Escutar com atenção, sem pressa de corrigir ou julgar;
- Usar uma linguagem simples, acessível, respeitando o tempo de cada faixa etária;
- Ser honesto, mas cuidadoso com os detalhes — nem tudo precisa ser dito de forma explícita;
- Compartilhar também o que você sente — vulnerabilidade, quando bem acolhida, aproxima.
Às vezes, o que uma criança mais precisa não é de uma explicação. É de alguém que esteja ali, com ela.
O que mais pode ser feito?
Mais do que procurar culpados ou soluções prontas, talvez o convite seja para olharmos mais de perto: o que está por trás da violência nas escolas? E o que pode abrir caminhos de transformação?
O primeiro passo pode ser o reconhecimento de que esse desafio não pode ser enfrentado somente pela escola. Pelo contrário, é um caminho que deve ser trilhado coletivamente com a ajuda da família e comunidade.
A seguir, apontamos algumas estratégias que têm se mostrado possíveis. Não são receitas, nem garantias de sucesso, mas podem dar bons resultados.
Educação socioemocional
Trabalhar com as emoções por meio de projeto socioemocional pode auxiliar os alunos a se conhecerem melhor, desenvolverem empatia, lidarem com frustrações e se relacionarem de forma mais respeitosa. Dessa forma, se abre a possibilidade para encontros mais saudáveis.
Talvez uma ideia simples seja começar a semana com uma roda de sentimentos: cada aluno escolhe uma cor que represente como está se sentindo e compartilha (se quiser) o motivo. Esse espaço de escuta simbólica já ajuda a reconhecer e validar emoções — tanto as boas quanto as difíceis.
Espaços de escuta e acolhimento
Rodas de conversa, momentos de conexão, atendimentos com psicólogos… tudo isso pode ajudar crianças e adolescentes a nomear o que sentem. Às vezes, um comportamento diferente pode ser um pedido de ajuda disfarçado. Vale prestar atenção.
E se, uma vez por mês, a escola criasse um “dia da escuta”? Um tempo para os alunos poderem conversar com alguém de confiança — um educador, mediador ou psicólogo. Com o tempo, esses espaços podem se tornar refúgios seguros para quem precisa de acolhimento, fortalecendo a comunidade escolar frente às questões que podem aparecer.
Formação de educadores e familiares
Professores, pais e responsáveis estão, por assim dizer, na linha de frente do cuidado. Investir na formação dessas pessoas, oferecendo ferramentas para identificar sinais de sofrimento e saber como agir, pode fazer toda a diferença.
Uma roda de conversa entre pais e professores, com mediação de um psicólogo, pode ser um primeiro passo. Não precisa ser uma palestra técnica — basta um momento de
partilha sobre os desafios de educar hoje e de como cada um pode apoiar o outro. Às vezes, só de saber que não estamos sozinhos, já muda muita coisa.
Educação digital e combate à desinformação
As redes sociais fazem parte da vida dos estudantes — e isso é uma realidade. O diálogo sobre o que circula nesses espaços, os riscos envolvidos e a importância de denunciar conteúdos violentos pode ser um bom ponto de partida.
Quem sabe uma atividade onde os alunos criem juntos um “guia do bom convívio digital”? Um material simples, feito por eles e para eles, com dicas sobre como agir quando presenciarem cyberbullying, ou como checar se uma notícia é confiável. Quando o protagonismo é deles, o engajamento costuma vir junto.
Cuidado com a linguagem (e com os silêncios)
Falar sobre violência pode ser delicado, especialmente com crianças. Mas devemos nos lembrar de que o silêncio também fala. Por isso, o ideal é encontrar formas sensíveis e respeitosas de abordar o tema, sem apelar para o medo ou o choque.
Talvez contar uma história — real ou ficcional — seja um caminho mais suave. Um livro, um filme ou mesmo uma tirinha pode abrir a porta para conversas difíceis de forma mais segura. Ao perguntar “o que você acha que esse personagem está sentindo?”, abre-se espaço para a criança ou adolescente falar de si, ainda que indiretamente.
Projetos coletivos e senso de pertencimento
A escola é uma comunidade. E, como toda comunidade, precisa de vínculos, afetos e propósito comum. Projetos em grupo, atividades colaborativas e ações que envolvam todos — alunos, professores, famílias — podem fortalecer esse senso de “estar junto”.
E se a escola organizasse um mural coletivo dos “cuidados do mês”? Cada turma poderia contribuir com frases, desenhos ou gestos de cuidado que presenciaram na escola. Isso ajuda a valorizar atitudes positivas e a reforçar a ideia de que todos têm algo a oferecer para um ambiente mais gentil.
Confira o nosso artigo sobre alfabetização emocional
Um caminho que se constrói com o tempo
Falar sobre violência escolar não é algo simples. Como vimos, pode envolver angústias, medos, frustrações. Mas também pode abrir espaço para o cuidado coletivo. Nesse aspecto, a educação socioemocional pode ajudar.
Vale lembrar que não estamos sozinhos nessa. Como mães, pais, educadores, gestores, cuidadores… todos podemos fazer parte da construção de um ambiente mais seguro e gentil para nossas crianças e adolescentes.
Pode ser que não tenhamos todas as respostas. Mas talvez isso não seja um problema. O importante é seguir fazendo perguntas, reflexões e construindo soluções — juntos, com coragem e afeto.
Quer refletir mais sobre a violência escolar e construir ações possíveis com sua equipe de educadores e pais? Baixe gratuitamente o e-book “Violência contra as escolas: estratégias de prevenção e estímulo à convivência” e descubra caminhos coletivos para tornar o ambiente escolar mais seguro, humano e acolhedor.
O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas de todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.