
10/09/2021
Autonomia: o dilema dos pais e mães ao verem seus filhos crescendo
Em entrevista por áudio, a psicóloga e consultora do programa LIV Fernanda Borges fala sobre a pré-adolescência e como essa fase da vida impacta as relações familiaresAcontece quase sem ninguém perceber. Um dia, a família acorda e aquela criança pequena que morava com eles até a noite anterior se foi, dando lugar a um novo indivíduo que, para muitos pais e mães, é um desconhecido. E para além das mudanças físicas, chegam também as alterações no comportamento e a necessidade de mais autonomia.
O fato é que quase ninguém passa ileso pela fase da pré-adolescência. Para Aparecida Mathias, mãe de duas meninas de 13 anos, o estranhamento pelas mudanças veio em dobro. Ao blog do LIV, ela disse que, para além do crescimento e mudanças na aparência das filhas, “notou maior desapego quanto a certos brinquedos e novos gostos em relação ao vestuário, programas de TV e leitura”.
Mas por mais novidades que a chegada dessa etapa da vida leve para a vida de alguns pais e mães, a psicóloga e consultora pedagógica do programa LIV Fernanda Borges esclarece que tudo faz parte de um processo de crescimento, e que é completamente normal a família ver-se diante de novos dilemas:
“Por vezes, o verdadeiro desafio é que os pais e responsáveis consigam reconhecer este crescimento acontecendo, pois muitas vezes, ainda que ocorra na frente de seus olhos, os adolescentes seguem sendo vistos como crianças pequenas ou bebês. Mudar essa imagem do indivíduo dependente de seus pais e aceitar a independência e autonomia dos adolescentes pode gerar sentimentos conflitantes nos adultos”.
Em entrevista em áudio para nosso blog, a psicóloga falou mais sobre as mudanças físicas e psicológicas da pré-adolescência, sobre como a autonomia vai ganhando mais destaque nas relações familiares e como a escola pode ajudar nessa etapa da vida, dentre outros temas.
O áudio completo você confere a seguir. Se preferir, você também pode ler os destaques da conversa na continuação do texto abaixo.
As mudanças da pré-adolescência
Segundo a psicóloga e consultora pedagógica do programa LIV Fernanda Borges, a transição da infância para a adolescência costuma ser um momento de grande angústia para os pais e responsáveis.
“Muitas vezes as mudanças vão acontecendo de forma rápida e os responsáveis não conseguem acompanhar. Dentre essas mudanças, temos as transformações corporais: começando com o famoso ‘estirão’, além do aparecimento de pelos, o desenvolvimento dos seios, as mudanças de voz, o surgimento da acne e da menstruação. Esses são alguns dos sinais do crescimento e do abandono da infância. Costumam ser os mais evidentes, mas não são os únicos”, ressalta.
Ela explica que dentre as transformações que trazem mais estranhamento para as famílias estão as mudanças nas vontades, gostos e desejos:
“Aquele prato de comida que tanto gostava, as músicas e as brincadeiras que faziam sucesso, tudo isso vai pelos ares. E o que antes era um terreno conhecido, passa a ser desconhecido. As famílias precisam, então, embarcar nessa nova viagem junto de seus filhos e filhas”.
Para a psicóloga, é importante que as famílias possam topar esse desafio de conhecer novos lados de seus filhos e sejam capazes de acompanhar o desenvolvimento e as mudanças.
Além disso, explica, “durante essa fase de intensas transformações, os responsáveis também precisam destinar parte de seu tempo e de seu cuidado para olhar para si, atentos a seus próprios sentimentos, podendo mapear e perceber suas dificuldades e, por que não, suas dores também”.
Qual o limite da autonomia?
Outro tema abordado pela consultora pedagógica do LIV no áudio foram os limites da autonomia. Para ela, autonomia não é só sair sozinho de casa:
“Autonomia vai desde aprender a andar e falar até ajudar nos cuidados da casa, ter responsabilidades da escola e cuidar de si. Trata-se também de aprender a lidar com sentimentos, a errar e a acertar, e a suportar as frustrações”.
Por isso, explica a especialista, é importante deixar o pré-adolescente experimentar algumas novidades, ter seus êxitos e fracassos, fazer escolhas, vivenciar o mundo com seu próprio olhar – sempre, é claro, garantido sua segurança física e emocional.
“Precisamos lembrar que o caminho da autonomia não é uma linha reta. É preciso paciência para o aprendizado. É importante que os diálogos da família com os pré-adolescentes e adolescentes aconteçam sem julgamentos, para nutrir real interesse em suas falas, ideias, pensamentos e sentimentos”.
Como a escola pode estimular a autonomia nessa faixa etária?
Nesse movimento de permitir que os adolescentes desenvolvam sua autonomia e façam suas próprias escolhas, em diálogo com seus responsáveis, a escola pode ser uma parceria importante, como explica Fernanda Borges:
“A escola é, para muitas crianças e adolescentes, o único espaço em que se encontram distantes de seus responsáveis. A interação social promovida nesse espaço permite que o aluno entre em contato com diferentes pessoas, com histórias e personalidades próprias. Isso aumenta seu repertório de possibilidades e de conhecer outras formas de lidar com as questões da vida. É também um espaço em que a criança precisa tomar decisões próprias, tanto na relação com outros colegas, quanto durante as aulas em seu processo de aprendizagem”.
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O LIV – Laboratório Inteligência de Vida é o programa de educação socioemocional presente em escolas em todo o Brasil, criando espaços de fala e escuta para ampliar a compreensão de si, do outro e do mundo.
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